Se há coisa que me deixa feliz é receber telefonemas de Paris. Mal vejo o número gigante no visor, atendo logo com um sorriso. Ontem foi só rir. A minha amiga TX liga-me do quarto do hospital, depois de ser operada à perna para colocar uma placa de titânio no fémur uma vez que o osso corria o risco de se fracturar por causa de uma metástase. A primeira coisa que me diz: "Nem sabes o que é que acabou de acontecer". E eu... " - Ai, meu Deus, o que é que aí vem?". E ela: "- Comecei a ouvir barulhos junto ao cortinado, peguei na muleta e fui até lá. Afastei o cortinado e deparei-me com um rato castanho a olhar para mim! Depois fugiu e não sei como é que agora vou conseguir dormir!". Desatei-me a rir. Ela, que tem o corpo a ser invadido por metástases, que está a morfina para acalmar as dores da operação, que vai passar por mais sessões de radioterapia e de quimioterapia, teve medo de que um Ratatui trepasse pela cama acima enquanto ela dormia. É tão bom encontrarmos alguma normalidade dentro de toda a anormalidade que ela está a viver.