14 março, 2010


A chuva teimava em não parar. As nuvens carregadas e negras aproximavam-se a toda a velocidade. A estrada transformava-se num ribeiro com correntes fortes. Por momentos cheguei a pensar que o fim-de-semana tão aguardado ia saltar nas páginas do calendário. Mas a vontade de ir para longe era tanta que a intempérie resolveu dar tréguas. Pelo menos por umas horas. Correu tudo bem até sairmos da A2. Beja/Ferreira, indicava o croqui. O meu sentido de orientação nunca foi muito apurado mas parece que o do Anónimo também não é melhor que o meu! Ou seja, uma piloto e um co-piloto com mau sentido de orientação só podia dar um resultado: quase cinco horas para chegar ao destino! Não havia placas, luzes nas estradas nacionais também são apenas miragens, e pessoas sóbrias no Alentejo (depois da hora de jantar) para nos tirarem dúvidas sobre o itinerário também é raro encontrar! Mas num golpe de sorte, encontrámos um alentejano pouco sóbrio que nos indicou o caminho certo. Lá tivemos de voltar para trás. Mais uma aventura por estradas que fazem lembrar um cenário de guerra, com a gravilha a sobrepor-se ao alcatrão e a esconder verdadeiras tocas. As histórias, os risos e a boa disposição marcaram aquele longo percurso.

Bom, eram quase dez e tal da noite quando chegámos à Quinta do Chocalhinho, em Odemira. O céu do Alentejo é sempre mais estrelado e as nuvens parecem mais vaporosas. A quinta fica num monte, onde o silêncio impera. Só é interrompido pela agitação nocturna das rãs que vivem no riacho e pelos passarinhos que anunciam o amanhecer. Sente-se uma paz inexplicável, parece que estamos noutra dimensão. O amor também ajuda, é verdade. É uma quinta tipicamente alentejana, composta por dez quartos e a decoração é rústica mas muito confortável. Faz-nos sentir em casa.

Foram dois dias em pleno, em comunhão, em sintonia. Uma partilha diária, intensa e ao mesmo tempo serena. Sossegou-me. Sossegou-nos.

Conversámos muito, passeámos, respirámos ar puro, descansámos, namorámos, ficámos na ronha...vivemos! A cumplicidade acompanhou-nos sempre - e que grande companheira! Nós e a cumplicidade. Nós. Foi mesmo muito especial.

O que sinto pelo meu Anónimo vai ganhando mais força, vai crescendo, a cada dia que passa. Quanto mais o conheço mais gosto dele.É impressionante.

O pior foi o regresso, a ressaca dos dias intensos, a vontade de ficar por lá mais tempo, as saudades...

O fim-de-semana perfeito, um refúgio para voltar - com GPS, claro!