Tenho tantas saudades. Parece que ainda nem acredito... Há uma semana foi o dia em que mais gostei de o ver, desde que partiu para o hospital. Falámos sobre muitas coisas, fez uma grande festa quando me viu, tinha os olhos cheios de vida. Repetiu o meu nome várias vezes, deu-me bejinhos e abraços e disse à enfermeira que tinha a melhor família do mundo, que era por ela que estava vivo, terminou numa voz bem colocada. Foi com muita paciência que a minha tia conseguiu dar-lhe umas colheradas de sopa enquanto o entretínhamos. Refilou com uma auxiliar e queria ir-se embora do hospital, estava farto daquele quarto. O meu avô nunca foi de ficar fechado, muito menos amarrado a uma cama. Era um homem de liberdade, sacrificou-se muito para a alcançar. Viveu com alegria o 25 de Abril.
Foi um homem de luta, de garra, de determinação. Lutou por um partido, por um clube, pela honestidade e por uma família. Conseguiu unir filhos, irmãos, cunhados, primos, netos, bisnetos com um amor incondicional. Partiu com essa missão cumprida. Esperou que a minha avó fizesse os 87 anos para não lhe azedar as memórias de um dia que devia ser de festa. Mas a 1 de Agosto partiu. Dói muito perder quem gostamos, pensar que nunca mais vamos ver aquela pessoa (pelo menos aqui). Mas as memórias doces suavizam a perda. Quando quem parte já vive dentro de nós, de alguma forma mantém-se vivo porque aquilo que nos alimenta, que nos liga àquela pessoa é o amor. Esse sentimento é indestrutível. Podemos desapaixonar-nos mas quando se ama alguém nunca deixa de se amar. É para a vida... que apesar de tudo, continua. Sobrevive-se da perda e vivem-se as memórias. E depois continuamos porque a vida é como a estrada, " é feita para seguir". Não é, avô?