O pior das férias é o momento em que nos apercebemos de que chegaram ao fim. O melhor é quando sentimos que as vivemos. Foi o que aconteceu! Hoje, dia 20 de Setembro de 2008, cheguei a casa vinda directamente da Ilha do Sal. Como acontece todas as vezes que viajo, a chegada ao aeroporto embrulha-se numa melancolia e na saudade polvilhadas com o prazer de regressar a casa. Se por um lado as férias chegaram ao fim, por outro, a minha vida vai sofrer algumas mudanças – objectivos que estabeleci nos quentes e reconfortantes dias que passei na ilha.
Foram oito dias mergulhados em banhos mornos de um mar azul-turquesa que parece resistir aos efeitos do photoshop, um calor peganhento mas ao mesmo tempo delicioso que se prende na pele levado por uma brisa quente, e entre a cumplicidade de três amigas que quiseram partilhar os dias com toda a intensidade do sabor das férias.
A simpatia dos cabo-verdianos e o seu espírito “NO STRESS” é cativante. Conhecemos pessoas que nos enchem de esperança em cada palavra que dizem, em cada olhar que lançam, em cada sorriso que esboçam. Vivem na riqueza de uma vida simples. O que é pouco para eles mesmo que não chegue tem de sobrar. Os olhos deles falam, explicam-se, sentem-se, contagiam. Têm uma verdade maior. Os olhos do Alex irradiavam um brilho diferente. A maturidade daquele miúdo de onze anos arrepiou-me. Quer estudar mas o seu sonho é ser jogador de futebol, como o Cristiano Ronaldo. Foi a bola que o trouxe a Portugal, para jogar num torneio. É o único dos meninos da praia que sabe o que é o Mc Donnalds e o Pingo Doce. O Alex já percebeu que o Sal é uma ilha demasiado pequena para o tamanho dos seus sonhos. Acredito que aquele menino vá longe, muito longe mesmo.
O hotel onde ficámos, o Novorizonte, estende-se num aglomerado de chalés rústicos, bem simpáticos, virados para a praia. O 531 foi aquele que nos recebeu e que ouviu muitas histórias, muitos desabafos, muitos risos…
Foi naquele recinto que conhecemos muitas pessoas que dificilmente esquecerei. O Hélio, um dos animadores do hotel, é uma delas. Irradia simpatia com aquele sorriso pepsodente. Mulato de olhos verdes, “primo” do Pacman, é o RP do sítio e arredores. Deu para perceber que é genuíno, uma das qualidades que mais aprecio nas pessoas. Brindou-nos os dias com a sua boa onda. Foi um verdadeiro “gentleman”! Também fiquei fascinada com o olhar doce do Sid. Tem uns olhos negros que fazem lembrar duas azeitonas pretas e brilhantes e um sorriso aberto de uma brancura imaculada que contrasta com o seu tom de pele. Tem dificuldade em ficar parado e várias vezes pudemos vê-lo a treinar capoeira na praia, em movimentos elegantes e seguros. Gostei particularmente da sua postura discreta, misteriosa, que desperta muita curiosidade. Com tantas qualidades se ficasse lá mais um tempo de certeza que me apaixonava por ele!
Também não me esqueço do “sô” Fernando, um empregado do bar do hotel cujo bigode recorta a sua expressão marota e o seu sorriso infantil. A sua simpatia actuou como um chá de digestão fácil durante as refeições. Ajudou-nos a resistir aos “there’s no tomorrow” da vida!
Outra personagem que conhecemos na vila foi “o cubano”. É um artista que torna simples pedras em obras de arte e simples folhas de palmeira em pássaros. De lenço embrulhado na cabeça e com uns calções curtos, feitos a partir de umas calças de ganga gastas pelo tempo, aproximou-se de nós. Trazia as esculturas para nos oferecer. Apreciámos as obras e agradecemos-lhe. Mas “o cubano não vive de obrigadas”, respondeu prontamente. Olhámos umas para as outras, estupefactas com a sinceridade dele. Depois tirámos uns escudos do bolso para pagar o presente e o cubano lá continuou a trabalhar nas ofertas!
A música africana invade todos os espaços, o corpo mexe-se mesmo que seja involuntariamente, quer seja ao ritmo da kizomba, do funaná ou até da morna cabo-verdiana. Até os pezinhos de chumbo sentem-se obrigados a dançar! O movimento dos corpos transpira sensualidade e o poder de comunicação da dança impera naquela ilha. Dançámos com autênticos bailarinos profissionais. Confesso que pisei alguns… falta de prática! Fiquei impressionada com o talento deles, os corpos irradiam música e movimento, traços desenhados de uma forma perfeita, equilibrada e suave como a brisa morna do fim de tarde. As noites prolongavam-se no Pirata e no Birimbau entre danças e minis. Numa das noites em que saímos de madrugada do Birimbau, exaustas com a dança, decidimos mergulhar o corpo no mar. A água estava quente e a lua cheia abraçava-nos na sua imensidão. O corpo apaziguou-se naquela noite que parecia digna de uma tela de cinema. O cheiro a maresia, o barulho calmo das ondas, que caminhavam sobre nós, em bicos dos pés, embalava-nos. A transparência do mar denunciava os nossos gestos. Houve uns que ficaram na água e outros que saíram. Os que ficaram apreciaram as estrelas certamente. O universo estava a nosso favor naquela noite mágica. Eu estava na areia, embrulhada na toalha a conversar com ele. Ambos sabíamos que o poder do mar era forte e que aquela lua fazia promessas. Mas eu vejo mal ao longe e ele ouve mal. Além disso, o que acontece naquela ilha fica ali, naquele silêncio, como toda a gente sabe. Se aconteceu alguma coisa só o mar poderá saber…
Só as moscas e os mosquitos é que interrompiam o sossego que nos hipnotizava em cada momento de repouso. Mas o disoderme e as vitaminas não cederam (pelo menos na minha pele). Tinha chovido na semana passada e as poças gigantescas que cercaram a vila chamaram os famosos mosquitos para chatear os turistas. Felizmente a Vanessa pensa em tudo e levou o Ezzalo! A cada saída tínhamos de nos bezuntar com repelente. Só tenho pena que aquele líquido não tenha afastado os melgas dos senagaleses que nos queriam impingir tudo e mais alguma coisa.
Embora tenha ficado fascinada com a viagem e com a cultura cabo-verdiana houve coisas que me impressionaram pela negativa. Primeiro, o lixo na vila e na praia (provocado pelos dias de festival), depois a miséria que se vê, sobretudo crianças descalças, com roupas sujas e rotas a percorrerem as ruas ou a brincar no areal da praia. E a prostituição. Fez-me sobretudo confusão ver miúdos de catorze, dezasseis anos, a venderem-se a turistas. Talvez sejam movidos pela esperança de saírem da ilha em busca de um futuro melhor.
Para quem odeia despedidas a hora do adeus é complicada. Para não variar custou-me despedir das pessoas. Para apaziguar a melancolia costumo pensar: volto daqui a uns tempos. Mas a verdade é que até posso voltar mas não vou viver as mesmas coisas, não sentir o mesmo nem sei se aqueles que gostaria de rever vão lá estar. Mas como o nosso amigo Hélio diz, as fotografias são recordações e recordar é viver! E nós as três vivemos estas férias como queríamos. Com descanso, sossego, festa, paz, praia, animação… sem stress! Umas mais que as outras. Mas também nem toda a gente aprecia After Eight. Eu cá prefiro Côte D’or (negro com avelãs). Por falar em comida, houve abusos e isso trouxe consequências. Deve ter sido do chocolate. Houve quem mudasse de cor durante a viagem. O bronzeado deu lugar ao branco pálido… mas enfim, faz parte! O mais importante é que as férias foram maravilhosas. Fomos nós que as tornámos assim. Para o ano há mais!
Sôdade…
Foram oito dias mergulhados em banhos mornos de um mar azul-turquesa que parece resistir aos efeitos do photoshop, um calor peganhento mas ao mesmo tempo delicioso que se prende na pele levado por uma brisa quente, e entre a cumplicidade de três amigas que quiseram partilhar os dias com toda a intensidade do sabor das férias.
A simpatia dos cabo-verdianos e o seu espírito “NO STRESS” é cativante. Conhecemos pessoas que nos enchem de esperança em cada palavra que dizem, em cada olhar que lançam, em cada sorriso que esboçam. Vivem na riqueza de uma vida simples. O que é pouco para eles mesmo que não chegue tem de sobrar. Os olhos deles falam, explicam-se, sentem-se, contagiam. Têm uma verdade maior. Os olhos do Alex irradiavam um brilho diferente. A maturidade daquele miúdo de onze anos arrepiou-me. Quer estudar mas o seu sonho é ser jogador de futebol, como o Cristiano Ronaldo. Foi a bola que o trouxe a Portugal, para jogar num torneio. É o único dos meninos da praia que sabe o que é o Mc Donnalds e o Pingo Doce. O Alex já percebeu que o Sal é uma ilha demasiado pequena para o tamanho dos seus sonhos. Acredito que aquele menino vá longe, muito longe mesmo.
O hotel onde ficámos, o Novorizonte, estende-se num aglomerado de chalés rústicos, bem simpáticos, virados para a praia. O 531 foi aquele que nos recebeu e que ouviu muitas histórias, muitos desabafos, muitos risos…
Foi naquele recinto que conhecemos muitas pessoas que dificilmente esquecerei. O Hélio, um dos animadores do hotel, é uma delas. Irradia simpatia com aquele sorriso pepsodente. Mulato de olhos verdes, “primo” do Pacman, é o RP do sítio e arredores. Deu para perceber que é genuíno, uma das qualidades que mais aprecio nas pessoas. Brindou-nos os dias com a sua boa onda. Foi um verdadeiro “gentleman”! Também fiquei fascinada com o olhar doce do Sid. Tem uns olhos negros que fazem lembrar duas azeitonas pretas e brilhantes e um sorriso aberto de uma brancura imaculada que contrasta com o seu tom de pele. Tem dificuldade em ficar parado e várias vezes pudemos vê-lo a treinar capoeira na praia, em movimentos elegantes e seguros. Gostei particularmente da sua postura discreta, misteriosa, que desperta muita curiosidade. Com tantas qualidades se ficasse lá mais um tempo de certeza que me apaixonava por ele!
Também não me esqueço do “sô” Fernando, um empregado do bar do hotel cujo bigode recorta a sua expressão marota e o seu sorriso infantil. A sua simpatia actuou como um chá de digestão fácil durante as refeições. Ajudou-nos a resistir aos “there’s no tomorrow” da vida!
Outra personagem que conhecemos na vila foi “o cubano”. É um artista que torna simples pedras em obras de arte e simples folhas de palmeira em pássaros. De lenço embrulhado na cabeça e com uns calções curtos, feitos a partir de umas calças de ganga gastas pelo tempo, aproximou-se de nós. Trazia as esculturas para nos oferecer. Apreciámos as obras e agradecemos-lhe. Mas “o cubano não vive de obrigadas”, respondeu prontamente. Olhámos umas para as outras, estupefactas com a sinceridade dele. Depois tirámos uns escudos do bolso para pagar o presente e o cubano lá continuou a trabalhar nas ofertas!
A música africana invade todos os espaços, o corpo mexe-se mesmo que seja involuntariamente, quer seja ao ritmo da kizomba, do funaná ou até da morna cabo-verdiana. Até os pezinhos de chumbo sentem-se obrigados a dançar! O movimento dos corpos transpira sensualidade e o poder de comunicação da dança impera naquela ilha. Dançámos com autênticos bailarinos profissionais. Confesso que pisei alguns… falta de prática! Fiquei impressionada com o talento deles, os corpos irradiam música e movimento, traços desenhados de uma forma perfeita, equilibrada e suave como a brisa morna do fim de tarde. As noites prolongavam-se no Pirata e no Birimbau entre danças e minis. Numa das noites em que saímos de madrugada do Birimbau, exaustas com a dança, decidimos mergulhar o corpo no mar. A água estava quente e a lua cheia abraçava-nos na sua imensidão. O corpo apaziguou-se naquela noite que parecia digna de uma tela de cinema. O cheiro a maresia, o barulho calmo das ondas, que caminhavam sobre nós, em bicos dos pés, embalava-nos. A transparência do mar denunciava os nossos gestos. Houve uns que ficaram na água e outros que saíram. Os que ficaram apreciaram as estrelas certamente. O universo estava a nosso favor naquela noite mágica. Eu estava na areia, embrulhada na toalha a conversar com ele. Ambos sabíamos que o poder do mar era forte e que aquela lua fazia promessas. Mas eu vejo mal ao longe e ele ouve mal. Além disso, o que acontece naquela ilha fica ali, naquele silêncio, como toda a gente sabe. Se aconteceu alguma coisa só o mar poderá saber…
Só as moscas e os mosquitos é que interrompiam o sossego que nos hipnotizava em cada momento de repouso. Mas o disoderme e as vitaminas não cederam (pelo menos na minha pele). Tinha chovido na semana passada e as poças gigantescas que cercaram a vila chamaram os famosos mosquitos para chatear os turistas. Felizmente a Vanessa pensa em tudo e levou o Ezzalo! A cada saída tínhamos de nos bezuntar com repelente. Só tenho pena que aquele líquido não tenha afastado os melgas dos senagaleses que nos queriam impingir tudo e mais alguma coisa.
Embora tenha ficado fascinada com a viagem e com a cultura cabo-verdiana houve coisas que me impressionaram pela negativa. Primeiro, o lixo na vila e na praia (provocado pelos dias de festival), depois a miséria que se vê, sobretudo crianças descalças, com roupas sujas e rotas a percorrerem as ruas ou a brincar no areal da praia. E a prostituição. Fez-me sobretudo confusão ver miúdos de catorze, dezasseis anos, a venderem-se a turistas. Talvez sejam movidos pela esperança de saírem da ilha em busca de um futuro melhor.
Para quem odeia despedidas a hora do adeus é complicada. Para não variar custou-me despedir das pessoas. Para apaziguar a melancolia costumo pensar: volto daqui a uns tempos. Mas a verdade é que até posso voltar mas não vou viver as mesmas coisas, não sentir o mesmo nem sei se aqueles que gostaria de rever vão lá estar. Mas como o nosso amigo Hélio diz, as fotografias são recordações e recordar é viver! E nós as três vivemos estas férias como queríamos. Com descanso, sossego, festa, paz, praia, animação… sem stress! Umas mais que as outras. Mas também nem toda a gente aprecia After Eight. Eu cá prefiro Côte D’or (negro com avelãs). Por falar em comida, houve abusos e isso trouxe consequências. Deve ter sido do chocolate. Houve quem mudasse de cor durante a viagem. O bronzeado deu lugar ao branco pálido… mas enfim, faz parte! O mais importante é que as férias foram maravilhosas. Fomos nós que as tornámos assim. Para o ano há mais!
Sôdade…
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