Pertenço a uma geração que nasceu em liberdade. Para mim o 25 de Abril de 1974 é um episódio que tem tanto de distante como de encantador. Lembro-me de absorver as aulas de História quando o tema era a Revolução dos Cravos. Os tempos de Ditadura eram tão diferentes da realidade que conhecia que ficava fascinada a ouvir o quotidiano dos portugueses daquela época. Pertenço a uma geração que nasceu com a "papinha toda feita", que nunca teve de lutar por nada, que tem uma grande dificuldade em valorizar o que a rodeia. Pertenço à geração da descrença na política, do "deixa andar", do "não me choca".
Cresci em democracia, em liberdade. Não tive uma educação católica, posso sair do país quando quero e quando me apetece, tenho o dever de ir às urnas mas também tenho o direito de não votar, posso trabalhar no que quiser e com quem quiser, emito opiniões sobre tudo, quando quero e como quero, posso expressar as minhas convicções... talvez seja por isto que a Ditadura me pareça uma época tão distante. Mas nunca me esqueço de que foram os nossos avós que fizeram a Revolução, que ofereceram ao país a Democracia. Foram esses soldados, guerreiros sem armas, que lutaram para que a sociedade portuguesa se transformasse, para que nos dessem um país melhor para crescermos e vivermos mais felizes do que eles foram. Para que tivessemos mais oportunidades do que eles tiveram. E nós o que é que fizemos? O que é que temos andado a fazer? Nada. Rigorosamente nada.