07 setembro, 2009

É tão real que quero partilhar:

"A razão principal é que já não há muita gente que tenha tempo a perder com o deserto. Não sabem para que serve e, quando me perguntam o que há lá e eu respondo "nada", eles riscam mentalmente essa viagem dos seus projectos. Viajam antes em massa para onde toda a gente vai e todos se encontram. As coisas mudaram muito, Cláudia! Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expoem-se logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia das suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, "leves", disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão. "
Miguel Sousa Tavares, No teu deserto

2 comentários:

PretaMalinda disse...

Nem mais!!!
Eu não sou excepção, desliguei-me de Portugal, dos meus amigos desde que cheguei à 1 mês e qq coisa. Entrei na "solidão e silêncio" e só dela saío quando me ligo aos blogs e ao FACEBOOK e entro na vida dos outros sem pedir licensa.

A velha questão impõe-se - as novas tecnologias de informação aproximam-nos ou afastam-nos?

Bjos

Tita Xana disse...

ainda ha, felizmente, quem atravesse desertos de vez em quando...