Hoje foi a vez de Lisboa dizer adeus a João Manuel Serra. Um homem que dedicou parte da sua vida a acenar com a mão direita nos passeios do Restelo e do Saldanha para as pessoas que por ele passava. Sorria-lhes através dos vidros dos automóveis e atirava beijos. Tive a sorte de conhecer este senhor numa reportagem para a faculdade. João era um homem culto, oriundo de famílias abastadas que dedicara a vida à sua mãe. Quando a senhora morreu, João procurou nas ruas de Lisboa o conforto para afugentar a solidão. Dormia pouco. Só pela madrugada é que se deslocava até Sete Rios, onde vivia. Quando não estava na rua ou em casa, ia ao cinema e às livrarias encher-se de cultura. Gostava de falar, era um homem de gestos mas também de palavras. Tinha como sombra o passado. Falava da família que ainda tinha no Restelo mas os seus olhos brilhavam quando recordava as viagens que fez com mãe. Tinha uma fotografia dela no bolso das calças. Era uma senhora imponente, fina. Talvez João a procurasse por entre os carros, ao som das buzinas. Talvez nunca tivesse tido tempo de se despedir dela. Ou talvez nunca tivesse desistido de a voltar a encontrar nas ruas de Lisboa. E queria recebê-la da melhor maneira: com um sorriso.
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