03 maio, 2008

Há quase um mês que não escrevo aqui. Preguiça, esse grande pecado mortal, que me atinge algumas vezes por ano.

Depois de ter gozado uns belos dias no sul do país, num apartamento com uma vista sobre o mar (tinha sede dele, de sentir o seu cheiro, de ouvir o barulho das ondas que depressa me embalavam o sono, de mergulhar na água fria e de me encher de areia), na companhia da Vanessa atirei-me à gastronomia algarvia (não, amiga, desta vez não vou denunciar aquilo que ingeriste à sobremesa!) e de ter percorrido quilómetros pelas simpáticas e pitorescas ruelas de Armação de Pêra eis que voltei à realidade. Lisboa – Cascais. Foi um descanso maravilhoso. Descansei, relaxei, aproveitei aquilo que o sul do país tem de melhor, sobretudo num mês mais calmo. Falei e desabafei com a Vanessa, a minha querida amiga e companheira de viagens. Mas como tudo o que é bom acaba depressa a viagem para Lisboa trouxe-me de volta ao trabalho e ás más notícias. Entre uma sopa de agriões e uma taça de gelatina de ananás um simples telefonema parou-me a digestão. Ele disse-me que se ia embora. Eu já sabia mas não queria pensar nisso, mesmo sem esperança tentei iludir-me. A voz dele anunciava aquilo que os meus ouvidos recusavam ouvir. Ia mesmo embora.

Os vidros da empresa começam a ficar desembaciados. O calor da amizade que trepava num vapor pegajoso foi invadido por uma corrente de ar fria, que os tornaram transparentes, pouco vividos, tristes. Para mim as mudanças nunca são fáceis mas sinto que isso é um dos desafios que tenho de ultrapassar. Por mim.

Trabalho em equipa. Dependemos uns dos outros e o trabalho final é o fruto dessa ligação. A saída da S. e da M. custaram-me bastante. A da R. também, embora tivesse sempre aquela ideia de que ela iria voltar. Mantive sempre essa esperança. Agora chegou a vez do J. – era inevitável. Gosto muito dele. Como chefe, como colega, como pessoa e principalmente como amigo. Os amigos não se substituem, acrescentam-se e acrescentam-nos. Eles acrescentaram-me. Sou uma pessoa melhor do que era há quatro anos atrás. Estou mais preenchida – disso tenho a certeza. Vou ter saudades da rotina e da cumplicidade que existia entre nós. A nossa equipa, a nossa alegria, o nosso empenho em fazer mais e melhor. Só porque acreditamos nas coisas que fazemos. Acredito que a mudança deles vai reaver-lhes o sonho que lhes foi roubado por instantes. Acredito que a nossa equipa vai continuar a manter os princípios que eles nos ensinaram. O silêncio é muitas vezes a minha palavra, o meu refúgio, a minha defesa. Nestes últimos dias o meu sorriso mal consegue disfarçar o vazio que sinto. As lágrimas que já fugiram nesta última semana têm-me aliviado. Sossegado. Este é o início de um novo ciclo. Tenho de enfrentá-lo, por mais difícil que seja. Os projectos mudam, as empresas mudam, as pessoas mudam… A amizade é como a natureza. Nunca se perde, transforma-se apenas.

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