05 março, 2009

Nunca tive medo de trabalhar. Atirei-me a esse mundo com garras e dentes e com a convicção de que a experiência me podia levar a concretizar os meus sonhos. Comecei com 17 anos a fazer babysitting, depois a trabalhar em festas de animação e a fazer de hospedeira em congressos e eventos. Na faculdade enquanto geria essas actividades decidi começar a fazer estágios, a mandar currículos, a receber “nãos” e cartas a agradecer a minha candidatura espontânea mas que naquele momento não andavam à procura de pessoas. Lembro-me de ter ido a um casting na Mega FM, de ter ido à segunda fase e ter ficado por ali. Lembro-me de ir ao Correio da Manhã e estar numa sala cheia de gente e fazer uns testes. Também não fiquei. Recordo-me do primeiro estágio, numa empresa de conteúdos online, sobre logística. Não tinha nada a ver com o que queria mas acreditei que podia aprender qualquer coisa e assim foi. Lembro-me da primeira entrevista que me fizeram na SIC Online, que me tinha corrido bastante bem mas que foi a minha amiga Sarita que acabou por ficar com o lugar. Acabou por voltar para a SIC uns anos depois, onde ainda hoje está. Recordo-me ainda melhor do dia em que lá voltei porque afinal precisavam de outra pessoa. Foram quatro meses maravilhosos, que jamais esquecerei. Pelo trabalho, pelo ambiente, pelas pessoas, por ter tido a oportunidade de trabalhar com amigas: a Sara, a Vanessa e a Carla. Depois chegou o dia das entrevistas na Endemol. A primeira e depois a segunda. Foram umas horas numa sala cheia de raparigas. A Van também foi a essa entrevista. Não sabíamos se tinha corrido bem ou não mas se ficássemos ligavam-nos nesse mesmo dia ao final da tarde. Decidimos ir lanchar a uma pastelaria para descontrair um pouco. Quando estávamos prestes a ir cada uma para a sua casa o telemóvel da Vanessa tocou. Ela tinha ficado e disseram-lhe logo que eu também. Foi uma grande festa… durante um mês. Trabalhávamos em turnos trocados e eu adorava o ambiente descontraído da Quinta das Celebridades, para além de ter tido imensa sorte com a rapariga com quem fazia dupla, a Joana. Entretanto tinha mandado o currículo para a Casa da Criação estava eu apenas há duas semanas na Produtora. Mas nem hesitei. Era tudo o que eu mais queria, escrever ficção. Fui à entrevista, chovia torrencialmente. Demorei dez minutos a chegar à vivenda do Alto dos Gaios. Fui entrevistada por dois argumentistas e pela responsável da Casa e editora de texto. Mal entrei senti-me muito bem. Tudo era harmonia. Lembro-me de ter pensado: quem me dera ficar aqui… Quando estava a chegar ao carro apareceu a Lúcia a correr de guarda-chuva na mão e perguntou-me: Se tivesses de escolher entre a Endemol e a Casa da Criação o que é que escolhias? Eu respondi de imediato que queria trabalhar ali. Ela foi-se embora. No dia seguinte, ia a caminho da Quinta, quando recebi o telefonema da Lúcia a dizer que tinha ficado. Queria gritar, saltar, festejar mas não podia… tinha de resolver primeiro a minha situação com a Endemol. Nessa noite não consegui dormir. Sabia que ia desiludir quem tinha apostado em mim. Falei com a minha responsável e ela percebeu perfeitamente e depois com a Joana, que também foi bastante compreensiva e desejou-me a maior sorte do mundo. Fiquei na Casa um ano e meio. Tenho óptimas recordações daquela moradia onde se vivia em família, pelo menos foi o que sempre senti enquanto lá estive. Chorei imenso quando saí, tinha aquela sensação de estar a abandonar uma família que tão bem me acolheu. Fizeram-me uma proposta e decidi sair porque achava que não podia perder a oportunidade de evoluir e de conhecer outras formas de fazer ficção e porque a era que a SIC estava prestes a iniciar prometia. Queria fazer parte de um projecto novo, precisava de crescer. Estive naquela empresa durante três anos. Apesar da forma como as coisas terminaram o balanço foi positivo. Não me arrependo de nada. Tornei-me mais segura, menos dependente e cresci. Ali tive de lidar com situações difíceis, “levei na cabeça”, e fui obrigada a gerir emoções, a engolir uns sapos, mas a verdade é que também foi ali que consolidei amizades e criei outras enquanto descobri a essência do espírito de equipa. Porque dependíamos única e exclusivamente de nós. Pela primeira vez, infelizmente, tive de lidar com um elemento da equipa bastante problemático cujo comportamento me desgastou muito durante um ano. Mas a vida é mesmo assim, temos de aprender a lidar com todo o tipo de gente e quanto mais cedo aprendermos melhor. Criei mais defesas, é verdade. Hoje em dia recuso-me a engolir tantos sapos, até porque não faz nada bem à digestão. Tornei-me mais activa, mais crente nas minhas capacidades e com vontade de ir mais longe. Depois foi a ida para Bucelas. Era a primeira vez que como guionista trabalhava directamente para uma produtora e gostei bastante da experiência. Foram seis meses felizes, com alguns sobressaltos pelo meio e algumas injustiças, mas isso faz parte da profissão que escolhi. Senti-me bem lá, para mim é fundamental. Desde que acabei o projecto que tenho aproveitado para criar outros de raiz e para tirar um sonho da gaveta e levá-lo para a frente.

Reconheço que tenho tido muita sorte mas também sinto que parte dela foi criada por mim. Pelo menos quero acreditar nisso.

Agora é a vez de arregaçar ainda mais as mangas e concentrar-me no futuro, nunca esquecendo o caminho que me levou até aqui, nem as pessoas que fizeram e que continuam a fazer parte dele. Porque como alguém me disse: “o coração ficará sempre no mesmo lugar”.

4 comentários:

Unknown disse...

Esqueceste-te de dizer que o nosso percurso foi muito semelhante :) Brincadeira... Ainda bem que estás numa de fazer coisas tuas e realizar projectos. Depois de tudo o que já fizeste, és capaz, claro que sim! Força!

Irina Gomes disse...

Arregaça as mangas porque a vida vai reconhecer o que vales e compensar-te por isso!
beijoooos

Eu disse...

E agora já sei a tua vida toda! :-)
Espero que realizes todos os teus sonhos, Cata! Muitos beijinhos.

Anónimo disse...

Como alguém me disse um dia, numa fase menos boa, em Barcelona num parque de diversões." esta montanha russa é como a vida, apenas tens de fazer duas escolhas, a primeira, é se queres ou não abrir os olhos nas descidas, a segunda, é se queres ou não aproveitar a tranquilidade das subidas para gozares da vista lá em cima!"
Força!!!
bj muito grande