Hoje foi o lançamento do livro
"Passaporte para o céu", do jornalista Paulo Moura. Ainda não o li mas não tenho a menor dúvida de que é um livro a não perder. Primeiro porque é escrito por um dos melhores jornalistas portugueses. Segundo porque a escrita do Paulo Moura é incomparável: ele consegue usar a palavra certa no momento certo. É impressionante. E terceiro porque é um grande observador da Humanidade e consegue transmitir isso a quem o lê.
Tive a sorte de conhecer o Paulo Moura há cerca de quatro anos, quando ele participou numa conferência na minha faculdade. A partir daí o jornalista tornou-se um amigo. Tive a oportunidade de aprender muitas coisas com ele. Sobre jornalismo e sobre a vida. Sinto que ele foi um dos responsáveis pelo fascínio que o jornalismo exercia sobre mim. E continua a exercer, mas de uma forma diferente. Ele mostrou-me como é que se faz jornalismo literário... Nem toda a gente consegue fazer. Mas ele tem esse dom... Nasceu com ele.
Não sou jornalista e nem sei se algum dia vou ser. Mas se fosse gostava de ser como o Paulo Moura. O meu Mestre.
Aqui fica o perfil que escrevi, há quatro anos atrás, sobre a pessoa que me mostrou o lado mais poético e ao mesmo tempo mais puro do jornalismo:
É repórter por vocação. Talha as informações de uma forma original. As suas histórias são autênticas telas de Monet, repletas de cor e de vida. Parece que a inspiração é a sua sombra. Solta todos os sentidos e empurra qualquer leitor para dentro dos seus textos.
Em cada palavra que diz, ouve-se um eco do Norte. Foi lá que nasceu, no Porto. Paulo Moura, 42 anos bem disfarçados, traz no olhar e nos gestos um espírito irrequieto. Gosta de aventura e encara a monotonia como inimigo. Foi isso que o levou a deixar de dar aulas de História. A rotina a que um professor está sujeito.
Logo no primeiro ano que começou a dar aulas, decidiu frequentar simultaneamente o curso de jornalismo no Porto. Ao fim de três anos, teve a sorte de ser chamado para o novo jornal Público, para ocupar a vaga de estagiário do Internacional. Pouco depois, surgiu a oportunidade de cobrir uma reportagem de três dias na Argélia. O facto de ter conseguido entrevistar o chefe da facção mais radical da OLP, o terrorista mais procurado do momento, abriu-lhe várias portas. Dois anos mais tarde, foi enviado novamente para a Argélia para cobrir as eleições. Envolvido nas manifestações, acabou por ser preso e expulso do país. Contudo, o insistente jornalista tinha sido dos últimos profissionais a abandonarem a Argélia. “ Correu bem a reportagem”, diz o portuense com um sorriso que quase toca o orgulho.
Depois, em 1993, seguiu para os Estados Unidos como correspondente. Esteve lá dois anos e meio testemunhando a era Clinton.
Para Paulo Moura, o mais importante numa reportagem é a capacidade de o jornalista confundir-se com as pessoas, “viver as coisas como se fosse uma delas”. A habilidade e essa capacidade mental para compreender os outros são elementos fundamentais para um repórter, especialmente se tiver de entrar em palcos difíceis como os de guerra. Estes, Paulo conhece muito bem. A Tchéchenia e o Afeganistão foram locais que deixaram marcas pelas dificuldades físicas e psicológicas que teve de enfrentar.
Mas não são só as situações de guerra que lhe dão prazer . Todas as que dizem respeito aos seres humanos que vivem em condições limite, em condições extremas, são um desafio para o jornalista. O que mais o fascina é poder analisá-las, estudar o lado humano da realidade. E é este lado humano, emocional, que Paulo Moura descreve com toda a intensidade. Escolhe as palavras certas para desenhar as situações pelas quais passa. Tudo ao pormenor. Parece que analisa a realidade à lupa. “Não quero ser objectivo”, afirma convictamente. A sua opinião está bem vincada em todas as suas peças, pois Paulo considera que o importante é deixar bem clara a subjectividade impressionista que dá cor ao seu texto, assumindo-a com toda a frontalidade.
Um dos seus sonhos é poder fazer uma reportagem no Sudão ou na Etiópia: “porque há lá dramas humanos incríveis”. Considera-as como tal uma vez que são reportagens bastante dispendiosas para o jornal suportar. Mas a esperança permanece.
Mas não só de reportagens vive este homem. Já fez tudo em jornalismo e agora tem-se dedicado à recensão de livros. “Gosto de ler e, às vezes, pedem-me para escrever sobre um livro ou sou eu que faço a proposta; são brincadeiras!”, sorri timidamente. Aliás, um dos seus projectos é escrever livros de ficção, mas confessa que até agora não tem tido muito tempo: “ Invisto muito nas escrita no meu trabalho, portanto, quando chego a casa nem sempre me apetece escrever”.
Continua ligado à revista “Pública” e ao jornal “Público”. A singularidade dos seus trabalhos já lhe ofereceu vários prémios, entre os quais são de salientar: o da Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento (FLAD) em 1994; o prémio Reportagem do Clube Português de Jornalistas em 1996 e em 1998, e, por último, o mais recente, o prémio futuro da Europa 2001, atribuído pela Comissão Europeia.
Paulo Moura é um repórter português que, por cada sítio que passa, traz-nos fotografias ampliadas daquilo que vê. Fotografias que nos contam histórias através de palavras.