29 maio, 2006


No sábado a terra tremeu mais uma vez na Indonésia. Mais uma vez morreram milhares de pessoas. E mais uma vez vimos as impressionantes imagens na televisão. Estas catástrofes angustiam-me, revoltam-me e ao mesmo tempo anestesiam-me. São lugares estranhos para mim. Felizmente. Olho para as imagens e vejo rostos de dor, aflição… Seres Humanos desorientados… Com a pele e com a alma à mostra. Vejo e sinto as imagens mas a verdade é que não conheço aqueles rostos, aquelas pessoas. Eram estranhas para mim. Até há uns dias. Até conhecer a Mary. O olhos da Mary.
23 de Agosto de 2005. New Orleans. A força do furacão Kathtrina invadiu a cidade e os diques que a cercavam e a guardavam imponentemente acabaram por ceder à força e à fúria das águas. A Mary estava lá. Viu a sua cidade ser engolida pelas águas. Viu pessoas a morrer. Viu pessoas a tentarem agarrarem a vida, pregadas às telhas dos frágeis telhados, implorando pelo salvamento, pelo direito à vida a que todos nós temos. Viu que a ajuda do próprio governo não chegava. Viu a cidade sem luz, sem hospital, sem comida, sem nada. Viu os limites da condição humana e fotografou-os.. O Kathrina levou a cidade e a esperança dos habitantes de New Orleans. Nesse dia a Mary perdeu a cidade e a identidade. E já não é a mesma pessoa que era antes de 23 de Agosto de 2005. Tenho a certeza de que os olhos da Mary não são os mesmos. O seu brilho apagou-se. Tal como a cidade.

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