06 novembro, 2005



Quando o sol brilha...

Ontem à noite apeteceu-me ser jornalista. Apeteceu-me estar no lugar da Raquel Marinho, a fazer a grande reportagem sobre um campo de férias para crianças queimadas.
Arrepiei-me desde o princípio ao fim da peça. A maturidade daquelas crianças é simplesmente impressionante. Porque tiveram de crescer à força. Tiveram de deixar de ser crianças porque a vida lhes roubou todos os sonhos. Assim, sem mais nem menos. E vida, sobretudo as pessoas continuam a ser cruéis para elas.
Apesar de estas crianças serem iguais a todas as outras, os outros gostam de lhes mostrar e de lhes fazer sentir que são diferentes. Como se não lhes bastasse uma cicatriz no peito ou na cara estas crianças têm de enfrentar uma cicatriz, muito mais profunda, que lhes atravessa o coração. Mas o mais incrível é que elas já aprenderam a viver com isso e com muita esperança, que lhes tenta aconchegar a dor. Pelo menos durante aquele campo de férias, onde não há olhares furtivos, onde todos os meninos são iguais. Sem espaço para complexos.
No campo de férias, psicólogos e terapeutas fazem um esforço para construir o mundo de sonhos que eles não encontram fora daqueles muros. Ali, todos os meninos voltam a ser as crianças que adormeceram dentro deles. Ali todos os meninos voltam a ser a criança que um dia o fogo lhes roubou.

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