ESCOLHER
Umas vezes escolhemos, outras vezes somos escolhidos. Às vezes podemos ter a sorte de escolher quem também nos escolhe. O verbo escolher implica abdicar de algo. Para escolhermos uma coisa, perdemos outra. Talvez não seja perder no sentido negativo do verbo, mas uma perda relativa, de uma hipótese que foi afastada para podermos viver a outra opção. Com o passar dos anos tenho percebido que inconscientemente tenho feito muitas escolhas. De experiências. De vida. De pessoas. Nestes 25 anos conheci muita gente e percebo que há uma espécie de selecção natural, de filtro, que tem prendido apenas algumas pessoas à minha vida. Tal como no leite fervido que mergulha através do passador, na minha vida só tem ficado a nata da nata - as pessoas que REALMENTE são importantes. Não interessam as distâncias, não interessa o tempo que passo com elas, não interessa se as conheci no ano passado, ontem, ou se já as conheço desde que nasci. Cada vez que estou com essas pessoas sinto que ainda no dia anterior estivemos juntas. É a isso que chamo amizade, amor, cumplicidade. Basta um olhar, um gesto, um sinal para nos percebermos, para nos rirmos, para chorarmos. Partilharmos.
Depois olho para trás e reparo que pelo passador evaporaram-se muitas pessoas, que até numa determinada parte da minha vida pareciam nata. Ilusão. Desilusão. Indiferença. Evaporaram-se. Não sinto saudades delas. Não sinto vontade de as rever. São as pessoas do "olá! Tudo bem?". Antes ainda dizia" temos de combinar qualquer coisa", quando as via. Agora não estou para isso. Já não as conheço e elas também não me conhecem. O que é que temos para partilhar? Lembranças. Passado que já passou pelos buracos do passador.
Já fui escolhida, já escolhi e já tive a sorte de escolher quem me escolheu. Mas ainda há espaço no passador!
7 comentários:
Sei do que falas porque eu senti exactamente o mesmo. Acho que é uma fase do nosso processo de crescimento, e nunca o tinha visto tão bem descrito. Parabéns!
dido :)
É importante que saibas escolher.
Assim como que não arrumes o passador.
Gosto de tudo: de como pensas nas coisas, do passador e do facto de só guardares a gordura do leite! Também gosto de leite!
E de ti, claro!:-)
É bom ler comentários de pessoas que estão presas no passador. Obrigada!
Beijinhos grandes
Belo texto. Posso utilizá-lo? Sem esquecer os direitos de autor, claro:))
PS: Até me sinto mais feliz e leve depois de lê-lo...
Claro que podes utilizá-lo. Ainda bem que fez sentir mais leve. Beijinhos
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