23 dezembro, 2005



FELIZ NATAL PARA TODOS!


Esta época diz-me muito. Mesmo muito. Lembro-me ainda mais da família e dos amigos e sinto-me uma pessoa cheia de sorte. Feliz. Ou melhor, muito feliz! Porque tenho uma família fantástica, que amo mais do que tudo na vida, e amigos. Verdadeiros. Que conhecem bem o valor da amizade. Pessoas especiais que tive a sorte de encontrar neste caminho e sem os quais a minha vida iria ficar muito menos luminosa.
A família não se pode escolher e eu tive a sorte de vir parar a esta... A melhor do mundo! Assim quis o destino... Para minha felicidade. E os amigos pude escolher e por isso... São os melhores! : ))
Chego a esta altura e fico nostálgica... Mas feliz! Sinto-me mesmo a pessoa mais feliz do mundo.
À minha família e às minhas amigas e aos meus amigos... Obrigada por existirem e por me terem deixado entrar na vossa vida!
Quero desejar um natal muito especial, junto das pessoas de quem gostam, com muita harmonia e paz! E se possível com uns presentinhos para animar ainda mais a noite!
Muitos beijinhos!

19 dezembro, 2005






Há músicas que me fazem arrepiar. Esta é uma delas. Dos COLDPLAY.




"Fix You"
When you try your best, but you don't succeed
When you get what you want, but not what you need
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse
When the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse?
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
High up above or down below
When you too in love to let it go
If you never try you'll never know
Just what you're worthLights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
Tears stream down your face
When you lose something you cannot replace
Tears stream down your face
And I...
Tears stream down on your face
I promise you I will learn from the mistakes
Tears stream down your face
And I...
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

18 dezembro, 2005


ARTE SEM TECTO


É uma galeria diferente. Os artistas são diferentes. E todos são convidados a entrar. Ou melhor, obrigados a entrar. Desde os velhos casais que carregam as compras apressadamente na esperança de não perder o autocarro, até aos mais jovens que param nas casinhas de artesanato para verem as novidades. Por vezes, esquecem-se de que estão a atravessar uma galeria. E esquecem-se sobretudo de que aquela rua é uma morada da arte.
Na Baixa lisboeta, a Rua Augusta é a nova casa dos pintores de rua. A grande calçada do início alberga cerca de 8 pintores. Expositores improvisados, feitos com antigas tábuas de madeira, mostram a técnica, os materiais e até a alma daqueles homens que seguram o pincel ou o lápis como se fossem objectos preciosos. Aguarelas que revelam os recantos da cidade, esboços de caras em carvão, réplicas de fotografias e postais a óleo são muitas das obras de arte que ali podemos encontrar. São artistas diferentes. Estão ali por motivos alheios aos outros pintores. Alguns pintam para agarrar a vida e pagar a droga. A maioria divide os quartos numa pensão ali perto, “medonha”, como classifica Pedro Jesus- um homem aparentemente jovem, de cabelos escuros e desgrenhados que fala com um olhar expressivo. Tão expressivo que chega a incomodar. Veste uma grossa camisa de flanela ao xadrez cujo bolso está descaído com o peso dos lápis. Entre desabafos e queixas, Pedro Jesus conta que ali a “concorrência é a droga”. A rivalidade entre pintores aumenta quando se trata de arranjar dinheiro para a droga. Pedro desde sempre que está ligado às artes. Durante 17 anos fez traço e depois a pintura surgiu naturalmente, assim como o artesanato. Enquanto fala, mete a mão num saco de plástico e tira uma mala feita em couro castanho. “Esta foi a primeira mala que fiz”, diz com um brilho no olhar. Mas é a pintura que lhe paga as contas: “Sobrevivo da pintura, com muita dificuldade.” O facto de ser judeu permite-lhe fazer jejum quando o dinheiro não chega, porque os portugueses são maus consumidores de obras de arte. Pelo menos da sua pintura, dita transcendente, na qual expõe “formas cabalísticas da árvore da vida e do mundo judaico”. Cores fortes misturadas com espaços vazios, linhas dispersas e objectos desconhecidos são a verdadeira testemunha do percurso de vida que Pedro Jesus tem levado. Rabiscos de loucura cruzam espaços imaculados. Nem os preços baixos da pintura de Pedro entusiasmam os portugueses. “Compram muito raramente. Só os velhotes.” É por isso que vai para Inglaterra. Já esteve noutros países da Europa, onde foi tratado com toda a dignidade e onde o seu talento foi reconhecido e espera regressar se a situação em que vive actualmente não se alterar. O facto de a Câmara de Lisboa ter mudado os pintores do Chiado para a R. Augusta teve consequências na venda das pinturas, segundo o pintor: “aqui em baixo não se vende nada. Foi a Câmara que quis arranjar dinheiro alugando este espaço.” Vieram para a Rua Augusta porque os comerciantes não gostavam deles nem dos amigos sem-abrigo que por lá apareciam. Com as mãos nos bolsos das calças e com o olhar a penetrar a calçada, Pedro Jesus faz o seu último desabafo: “nós somos tratados como tudo menos como artistas”. Do outro lado da rua está um homem muito alto, com o cabelo louro apanhado por um elástico e uns olhos muito azuis que revelam simpatia. Tem as mãos sujas de tinta em tons de azul e amarelo. Está a alinhar as suas telas para que todos as vejam, para que todos as comprem. Ali é o pintor que tem mais pinturas expostas. Tem uma autêntica banca muito bem arrumada. As paisagens são o seu tema de eleição. Lugares desconhecidos, de sonho, postais onde as cores se esbatem e formam universos magníficos. Konstantine Skrynnikov é um russo que chegou a Portugal há apenas um ano e meio. Apesar das dificuldades que tem com a língua portuguesa, sorri quando fala no país que o acolheu: “vim para aqui e quero ficar”. Foi na Rússia que estudou pintura, durante cinco anos, na universidade. Trabalhou a maioria do tempo como pintor, depois resolveu ir dar aulas durante três anos. Mas a crise que se faz sentir no seu país natal obrigou-o, aos 41 anos, a deixar a família e a vir para Portugal à procura de emprego. Gosta de estar ali, na rua, sentado numa cadeira a pintar, ao lado dos expositores, enquanto os potenciais clientes vão elogiando a sua obra. Por detrás destes pintores que tentam vender aquilo que de melhor fazem aos que, indiferentes e apressados, passam por aquela agitada rua, estão dramas humanos, histórias de pessoas que apenas vão sobrevivendo. Se há alguns artistas de rua que pintam a realidade em que vivem, as condições de sobrevivência que têm de ultrapassar todos os dias, outros pintam paisagens paradisíacas, como se procurassem uma morada.





NESTE NATAL DIZ O QUE SENTES!

Recebi por estes dias este texto num mail e apeteceu-me partilhá-lo.
Da Solidão
"A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor ser que ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflecte. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção, as que são o património de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto da sua fria e desolada torre."
" in Para viver um grande amor, Vinicius de Moraes

13 dezembro, 2005

A SAGA CONTINUA...
Mais um jantar com os de sempre. E com os que não puderam ir ao último, dos noivados: o Sancho, o Pita, a Rita e o Zé Tó. Numa noite fria de Dezembro. Morada: casa da Vanda e do António, com vista para o mar. O cenário não podia ser melhor. O jantar também não. Lareira acesa, velas acesas, boa disposição acesa! Para variar. Quinta do Cabriz, mais uma vez em cima da mesa! Com a nova introdução do Marquês de Borba. Qual deles o melhor? Ninguém sabe. Por isso, convém experimentar os dois. Uma, duas, três, quatro vezes… As que forem preciso! Volta-se a falar do noivado, enquanto o chouriço estala junto à lareira. Com tanta lenha para se queimar há quem queira o apita o comboio e o barulho da prata dos serviços a bater nos copos de cristal! Mas a noiva Tita, apoiada pela noiva Andy, não quer. Mas casamento sem isso não é casamento, argumentam os outros. E a verdade é que já há muitas expectativas para a boda do ano: a qualidade do vinho, a safa do Pita (estou a torcer por ele) o bouquet (quem o irá apanhar?), o período nocturno do DJ (pagamento extra), a lua-de-mel dos noivos… E ainda se falou na pronúncia do sôr padre! Que é capaz de provocar alguma gargalhadas! Mas silêncio, que estamos na Igreja. Por falar nessa instituição agora de repente lembrei-me da Roménia. Não sei porquê… Mas parece que há quem tenha andado por lá a dar toques… Com o telemóvel, claro. Fala-se no reinado de D. Sancho III. Quando as saudades apertam não há distância que valha. Mas a verdade é que ninguém viu. E “coração que não vê não sente”… E as paredes infelizmente ainda não entendem romeno. Mas que houve toques… Lá isso houve! Por falar em toques… Há quem tenha tido algumas experiências traumatizantes, algures num poste dos Salesianos. Para quem não sabe um poste de electricidade é muito mais do que isso. Pode ser uma diversão. Mas cuidado com as brincadeiras. Pode-se apanhar uma valente descarga eléctrica ou até quiça uma descarga de… Bem, está provado cientificamente que muitos homens sofrem de infertilidade à custa do belo poste, que outrora servia para dar agitação aos intervalos das aulas. Depois de cinco garrafas e de muitos brindes, de queijinhos, de pasta de atum e de enchidos… Ainda veio um tabuleiro gigante com um fantástico bacalhau feito pela mãe da Vanda. Lá tiveram os estômagos de se apertar mais um bocadinho. Com muito prazer. O telemóvel toca, com a música sugestiva do genérico do sexo e a cidade. Quem é? Perguntam os mais curiosos enquanto vou atender. Mistério. Porque para mim tanto me faz que digas coisas boas ou coisas más! Toca outro telemóvel. É novamente o da Vanda. O inimigo do papá António volta a lembrá-la! Lá vai ela até à cozinha… As memórias vão falando mais alto e recordam-se as férias do Verão. Do sol quente do Algarve, dão bronzeado, da noite mais estrelada e mais animada de Portugal e da água de lavar a loiça que deu banho a muita gente. Não foi, Sr. Vargas? Há quem beba café para tratar dos fígados e há quem tem a sorte de se refrescar com água carregadinha de gordura e de detergente! É sempre bom desinfectarmo-nos das impurezas da noite! Foi na noite de Sesimbra que alguém ia tendo um encontro imediato de terceiro grau… Afinal, o noivo André disse que eles não sabiam brincar! Hora da sobremesa. Um strudel de framboesa com vários gelados. Era só mesmo o que faltava para continuarmos a dieta! Os noivos estão cada vez mais apaixonados! Olham-se com ternura e segredam aos ouvidos. Dos outros noivos o melhor é nem falar! Há olhares que revelam tudo. E eu sempre fui muito observadora! Outra gargalhada do António que ecoa na sala. E que nos contagia a todos. Mais uma chamada. Está na hora de me ir embora. Mas antes disso ainda sou sujeita a um interrogatório do meu cunhadinho e do Sancho. Muitas perguntas tinham eles para me fazer! A Luz já está à espera. Beijinhos e abraços a todos. Despeço-me deles e sigo para o carro. Deixo para trás uma noite muito animada. Com a garantia de que não acaba ali. Sei por fontes seguras que as garrafas de whisky e de Rum evaporaram. Deve ter sido com o calor que saía da lareira! De certeza. E parece que mal o anfitrião António se encostou às boxes começou a ouvir-se um certo ressonar… De onde é que viria?! Já na pista de dança encontrei o noivo Sérgio e o amigo Vargas. A noiva estava cansada e foi para a cama, qual bela adormecida! Eles portaram-se bem. Uma garrafinha de água salvou pelo menos um deles da… azia do jantar! Muita música e muita dança! Até à Love Generation, claro!Hoyve quem recebesse uma sms e ficasse contente... A noiva gosta de controlar! Depois, o corpo começou a dar sinais de cansaço e lá fomos para o carro. Primeira paragem – casa da Vanda. Beijinhos sonoros e sem ser sonoros em concurso! Na cara, obviamente! O Sérgio e o Vargas saem. Um deles mais fresquinho do que o outro. Não quero acusar porque já é da família! Despedimo-nos de uma noite que foi longa e grande… Em grande! Para não variar!

09 dezembro, 2005

DE VOLTA
As férias estão mesmo a acabar. Senti isso, quando voltei hoje à Casa. Foi estranho voltar à sala de trabalho e encontrar um espaço escuro e vazio. Os computadores estavam todos desligados bem como a aparelhagem e foi esquisiti não ouvir o som do bater dos dedos no teclado. Pela primeira vez percebi que o projecto tinha terminado. O meu primeiro projecto. Nem no dia em que escrevemos o último episódio senti isso. Talvez porque as férias se aproximavam e o entusiasmo camuflou outras emoções. Mas agora sinto. Completamente. E tenho pena. A vida daqueles personagens acabou ali. Ficou naquelas folhas. E custa um bocadinho dizer-lhes adeus. Afinal, cada um deles é um bocadinho de nós, que lhes damos vida. Cada um deles é um bocadinho daquilo que vemos, daquilo com que vivemos, daquilo que sentimos. E é por isso que custa tanto. Por outro lado, sinto-me feliz. Nunca hei-de esquecer aquele projecto. Não só porque foi o meu primeiro como também porque gostei imenso de poder contribuir um pouco para que ele fosse possível. E tenho a consciência de que dei o meu melhor. E sinto-me orgulhosa com o resultado. Eu e todas as pessoas que O escreveram, tenho a certeza. E é a elas que devo tudo o que aprendi. Que foi muito. Muito mesmo.
Vou sentir muitas saudades daquele Mundo, que também foi e continuará a ser nosso. Para sempre.

08 dezembro, 2005


Há histórias que merecem ser contadas. Esta é uma delas. E passou-se na cidade mais romântica do Mundo: PARIS!


Ela estava no comboio. Distraída, como sempre, a olhar para o placar com a informação das estações. Ele estava encostado à porta, a observar tudo e todos. No mundo dele. Ela sorriu para a amiga e disse-lhe que estavam atrasadas. Ele ouviu e também sorriu. Porque também estava atrasado para as aulas, porque aquele idioma lhe era familiar. Aproximou-se delas, sem receio. Começou a falar na mesma língua e ficou contente por ter encontrado alguém que o entenda. Elas sorriram e sentaram-se os três em dois bancos noutra carruagem. Ele fez as perguntas básicas e elas também queriam saber tudo sobre ele. Uma mais do que a outra. Elas iam para a Disneyland. Ele ia para a Universidade, que ficava no mesmo caminho. Ele era simpático, comunicativo. Tinha uns olhos verdes expressivos e um sorriso aberto. Ela também sorria. E a amiga estava atenta à conversa. Tiveram de sair do comboio para mudar de linha e ele esperou por elas. Atrasado por atrasado estava disposto a fazer companhia. E assim foi. Mudaram de linha e continuaram a conversa. Uma conversa de comboio, banal, igual a tantas outras que por ali se cruzam. Próxima paragem… Era a dele. Despediu-se cordialmente com a certeza de que se iriam encontrar na cidade durante aquela semana. E saiu sem deixar rasto. Ela arrependeu-se por não ter trocado contactos e percebeu que nunca mais o iria voltar a ver. Não sabia nada dele a não ser o nome, o vasto local onde ele morava em Paris e a sua cidade em Portugal. Mas lembrava-se dos olhos verdes e do sorriso rasgado. E lembrou-se dele durante a noite. Dois dias depois lembrou-se dele mais uma vez. E decidiu ir à sua procura. Lembrava-se de um nome de uma casa. Mas não tinha a certeza de que era a dele. A amiga achava que não era essa. Mas algo lhe dizia que era. Resolveu escrever uma folha com um recado para ele, o rapaz do comboio, do sorriso rasgado com pronúncia do Norte. Foi à residência que lhe soou melhor com outra amiga, a parisiense. E mal entraram na casa o recepcionista perguntou que papel era aquele. Ela ainda tentou disfarçar mas a amiga acabou por contar a história. A verdade. Ele ficou radiante e quis ajudar a desvendar o mistério, de imediato. Foi ver às listas todas e procurou o primeiro nome do rapaz do comboio. E lá estava. No quarto número quatro. Mas seria ele? É um nome comum. Bonito mas comum. O recepcionista acreditou que o tinha encontrado. E elas também. Uma mais do que a outra. O homem simpático lá insistiu para deixarem o recado na caixa do correio. Para além de afixarem o outro num placar do hall de entrada. E ela fez isso. Porque lhe apeteceu. Porque queria encontrar novamente o rapaz do comboio. Mas seria ele? Seria aquele nome o dele? Ela deixou-lhe o bilhete na caixa do correio, com o seu e-mail. As duas amigas foram-se embora. Uma mais esperançosa do que a outra.
Passaram dois dias e nada de mail. A caixa continuava vazia sem notícias do rapaz do RER. A casa não era aquela, de certeza. Aquele não era ele. Fizeram as malas e foram para o aeroporto, de regresso a casa. Ela lembrou-se dele. Mais uma vez. Sabia que não o voltaria a ver. Mas no dia seguinte, quando foi ver a caixa de correio electrónico ficou surpreendida com uma mensagem. Era o rapaz do comboio!!!
Em PARIS tudo pode acontecer!Mesmo que seja ficção...

04 dezembro, 2005


























PARIS... A CIDADE!
Foi ontem! A semana passou a correr, infelizmente. Ainda agora cheguei e já tenho imensas saudades daquela cidade. Saudades da Cité Universitaire, do nosso quarto, da nossa cozinha, da nossa confusão, dos longos passeios, da noite iluminada, do frio. Do frio. Do cheiro a croissant, a baguetes quentes e a crepes com nutella em Saint Michel! Tenho saudades de andar na rua, de sentir aquele vento gelado, e perder-me naquelas calçadas. Lá, queremos ver tudo. Porque tudo vale mesmo a pena. Os monumentos imponentes, como a Notre Damme ou o Sacré Coeur, que nos esmagam completamente. As ruas agitadas de Montparnasse e o silêncio de Montmartre, que nos conquistam em cada esquina. Dos museus, das ruas. Das ruas. Mas tenho sobretudo saudades do Sena. Daquele rio que se estende na cidade e sobre o qual foram construídas 24 fantásticas pontes. Cuja beleza é simplesmente indescritível. Sinto falta da música tocada no metro, das nossas gargalhadas no quarto e do nosso chazinho nocturno.
Lembro-me do dia em que visitámos a Dineyland. Nunca me vou esquecer da magia que senti. Que toda a gente sente. Parece que entramos na Terra do Nunca. O mais difícil é sair de lá.
Tenho saudades da Joaninha e da sua rabugice matinal. Da Tita e dos seus dramas românticos. E da Catarina e da sua energia. Durante uma semana fomos mais do que amigas. Fomos uma família. SAUDADES. Para o ano há mais. Ficou muito para ver... Aliás, para sentir. Paris não se vê... SENTE-SE!

24 novembro, 2005



DEBAIXO DE ÁGUA
São autênticos peixinhos dentro de água. Destemidos, na piscina, os bebés mostram que a natação é muito mais do que uma aula onde se aprende a nadar.

10h30. Sábado. Já se ouvem gargalhadas nos corredores de uma bonita e colorida vivenda em Cascais. Entra-se no Health Club e descem-se umas escadas que levam a uma espécie de túnel azulado, cujas paredes estão adornadas com tapetes em forma de animais- sapos, caranguejos, golfinhos- que transformam aquele corredor num verdadeiro oceano. Nos balneários, os bebés vão vestindo o mais depressa possível os minúsculos fatos de banho, com a ajuda dos pais. Junto à entrada para o recinto da piscina já está formada uma fila, que espreita ansiosamente através das duas janelas- que fazem lembrar dois gigantescos aquários.
A professora Margarida Cruz e o monitor Bernardo Crespo estão dentro de água, à espera das mães e dos pais que trazem os bebés ao colo. O azul turquesa dos azulejos da piscina mistura-se com as cores garridas dos brinquedos e dos colchões que vão flutuando na água.
A Ana Catarina tem quase dois anos e é um dos quatro bebés que vieram à aula. Pendurada no pescoço da mãe, a Catarina revela, com um sorriso, a vontade de entrar na água. Sónia Frasco resolveu pôr a menina na natação aos três meses de idade. Desde essa altura que Sónia começou a notar uma grande evolução na filha: “no andar, por exemplo, ela começa a mexer-se muito mais rápido e a ter outras defesas que não tinha. Quando cai levanta-se rapidamente.”
De mãos dadas à professora Margarida, a Ana Catarina prepara-se para mais um mergulho. “1, 2, 3!”, conta em voz alta a professora. Os estímulos sonoros constituem um dos elementos que se desenvolve com a prática desta actividade. “A partir da altura em que ouvem o «1,2,3» os bebés começam logo a fechar os olhos porque sabem que vão mergulhar”, comenta a professora.
Há 20 anos que Margarida Cruz dá aulas de natação. Mas foi em Madrid que se especializou em bebés. O seu olhar meigo, maternal, revela o gosto que tem ao ensinar nesta área tão difícil. “Não é qualquer pessoa que consegue estar a trabalhar com bebés. É preciso ter uma grande relação com eles. Gostar muito deles.”- confidencia a professora.
Dentro de água, cada bebé vai flutuando em cima de um colchão de espuma, que o jovem monitor Bernardo vai puxando. Do outro lado da janela, do gigantesco aquário, com as cabeças coladas ao vidro, estão dois homens e duas mulheres deliciados a observar os malabarismos dos filhos. O pai da Ana Catarina é um deles. O seu olhar cintilante persegue todos os movimentos da filha.
Para a professora Margarida Cruz, os bebés devem iniciar esta actividade aos três meses. É nessa altura que eles mais precisam de despender energia. Pois, nessa fase, as crianças “só comem e dormem”, refere a professora. É mesmo dentro de água que os bebés conseguem gastar a energia acumulada, movimentando-se de uma forma rápida. Nesta actividade são explorados vários aspectos como a coordenação dos movimentos, os estímulos sonoros e visuais e até a perda dos vários medos. Todos estes factores contribuem para que o bebé adquira uma maior autonomia.
Cada lição é um simples jogo de confiança em que as vitórias são celebradas ou com beijinhos ou com o gesto «dá cá mais cinco!», a que os bebés respondem com a pequenita mão levantada no ar
É na água que as emoções são exploradas. Mimos, gargalhadas, cumplicidades, que muitas vezes são esquecidos durante a semana, com a rotina e o stress do trabalho.
Em 30 minutos, professores, pais e bebés juntos numa aula de afectos.

19 novembro, 2005



CHRISTMAS IS ALL AROUND!

Santa Claus is Comming to Town!

18 novembro, 2005






Um Buffet : Várias mesas corridas, redondas, floridas, gigantescas, de braços abertos para aqueles que literalmente têm mais olhos que barriga. Ou talvez não!

Um casamento, um baptizado ou uma simples festa de aniversário são sempre bons argumentos para nos sentarmos à mesa com os amigos. E quando chega a altura de escolher o menu há sempre uma opção que agrada a todos: o famoso buffet!
É uma autêntica maratona! Cinco minutos depois de estar toda a gente sentada, os empregados dão o sinal de que os convidados se podem começar a servir. Saltam imediatamente das cadeiras e rasgam a pista de tartan, deslocando-se todos para a grande cascata de camarão. Primeira fila, primeiro engarrafamento! Com o prato na mão, eles vão rezando para que a sua vez chegue rapidamente e quando isso acontece, despejam energicamente o marisco e, não vá o diabo tecê-las, levam noutro pratinho mais meia dúzia de gambas.
Enquanto se ouve o alvoroço da corrida, do autêntico trânsito provocado pela gula, vê-se ao longe, no palco improvisado, um cantor que vai afinando o órgão. Minutos depois, começa a cantar aquele repertório- que de original tem pouco- e vai gritando umas notas que se perdem na multidão. Ninguém dá por a presença daquela estrela. Até podia ser a Madonna que ninguém a teria visto!
Mas isto de ir a um buffet tem muito que se lhe diga. Existe, de facto, uma filosofia desta arte que consiste exactamente em comer o máximo no mínimo de tempo. E a verdade é que existem verdadeiros profissionais dos buffets. Alguns até têm mestrado. Quando chega a altura de ir à mesa das sobremesas não há cá cerimónias! Como a tarte de morangos não sobrevive àquela gente toda o melhor mesmo é jogar pelo seguro. Leva-se a delícia encarnada, repleta de chantili, para a mesa. Inteirinha, que é melhor!
Depois dos digestivos, começamos a ver várias pessoas a deslocarem-se, amareladas, pálidas, até à casa de banho. Nem dá para acreditar: mais outro engarrafamento! Quando regressam às mesas há uma coisa que sobressai e que lhes é comum: o botão das calças ou da saia já não está aprisionado na casa. Ele agora pode mover-se e a braguilha também! Cuidado! Mas como ainda há muita coisa apetecível nas mesas e como no estômago sempre se arranja um espacinho e- se não se arranjar toma-se um kompensan- lá seguem todos novamente com os pratos na mão, atropelando-se, para as intermináveis filas, com o mesmo entusiasmo do início da festa.
Quando a hora da despedida se aproxima, muitas lágrimas vão caindo. Dá-se a última volta à pista, a de honra. Olha-se pela última vez para as mesas- que agora estão mais vazias e silenciosas- e pergunta-se ao empregado se não há caixinhas para levar os restos. Isso se eles não as tiverem já levado de casa!
Com tanto pecado mortal só nos resta mesmo dizer: bom apetite!


YOU'RE BEAUTIFUL...
It's true.



O céu está coberto por umas nuvens acinzentadas. O sol vai espreitando timidamente, de vez em quando. Abro a janela. Cheira a terra molhada e a café acabado de fazer. Oiço uma música de Craig Armstrong e lembro-te de ti. Do teu sorriso quase mudo, que se reflecte no olhar e me prende. Da tua timidez, que te esconde dos outros e que te esconde de mim. Por vezes. Mas eu gosto de pessoas misteriosas. É como se tivesse o desafio de desembrulhar um presente sem saber o que está lá dentro. Por cada pedacinho de papel que se vai rasgando o nosso espírito vai tentando adivinhar o conteúdo. E quem não gosta de surpresas? Eu adoro. Boas surpresas, claro. Que as outras não fazem falta. E tu és uma boa surpresa. Tenho a certeza disso. Porque a minha intuição raramente me engana. Porque o desejo de que sejas assim é tão forte como a vontade que tenho de estar perto de ti.
Tens o dom de me tornar menos racional e mais impulsiva. Desarrumas, arrumas e voltas a desarrumar a minha vida sem sequer teres noção disso. Confesso que sabe tão bem...
Hoje lembro-me de ti. Amanhã logo se verá.

11 novembro, 2005







PARIS...

Aí vamos nós!!! : )

TURN ME ON


I'm still waiting...


Like a flower waiting to bloom
Like a lightbulb in a dark room
I'm just sitting here waiting for you
To come home and turn me on
Like the desert waiting for the rain
Like a school kid waiting for the spring
I'm just sitting here waiting for you
To come on home and turn me on
My poor heart, it's been so dark since you been gone
After all, you're the one who turns me off
You're the only one who can turn me back on
My hi-fi's waiting for a new tune
The glass is waiting for some fresh ice cubes
I'm just sitting here waiting for you
To come on home and turn me on
Turn me on

(Norah Jones)

06 novembro, 2005



Quando o sol brilha...

Ontem à noite apeteceu-me ser jornalista. Apeteceu-me estar no lugar da Raquel Marinho, a fazer a grande reportagem sobre um campo de férias para crianças queimadas.
Arrepiei-me desde o princípio ao fim da peça. A maturidade daquelas crianças é simplesmente impressionante. Porque tiveram de crescer à força. Tiveram de deixar de ser crianças porque a vida lhes roubou todos os sonhos. Assim, sem mais nem menos. E vida, sobretudo as pessoas continuam a ser cruéis para elas.
Apesar de estas crianças serem iguais a todas as outras, os outros gostam de lhes mostrar e de lhes fazer sentir que são diferentes. Como se não lhes bastasse uma cicatriz no peito ou na cara estas crianças têm de enfrentar uma cicatriz, muito mais profunda, que lhes atravessa o coração. Mas o mais incrível é que elas já aprenderam a viver com isso e com muita esperança, que lhes tenta aconchegar a dor. Pelo menos durante aquele campo de férias, onde não há olhares furtivos, onde todos os meninos são iguais. Sem espaço para complexos.
No campo de férias, psicólogos e terapeutas fazem um esforço para construir o mundo de sonhos que eles não encontram fora daqueles muros. Ali, todos os meninos voltam a ser as crianças que adormeceram dentro deles. Ali todos os meninos voltam a ser a criança que um dia o fogo lhes roubou.

02 novembro, 2005

O JANTAR... O TAL!
Folhadinhos no forno. Mesa posta. Começam a chegar: Vanda, Rita e António, Tita e André. Tocam outra vez à campainha: Sérgio e Tiago. "Os de sempre" estão reunidos. Os de sempre e aqueles que costumam vir mas nem sempre se vêem... Roubam-se uns folhados, ainda bem quentinhos. A Joaninha? A Joaninha? Vão perguntando. Uns mais interessados do que outros... E lá chega a Joaninha, com o vento e com o cheesecake na mão. Salta a quinta do cabriz para cima da mesa que o frio vai pedindo. O frio lá de fora. Porque cá detro a temperatura vai subindo. Abram as janelas! Há olhares supeitos que se soltam da mesa. Homens para um lado. Mulheres para outro. Servem-se os pratos. E os copos! Mais uma e outra vez. Assunto tabu: os monstrinhos do Lockness (18) e o anel de Tita. Cuidado que pode vir no bolo, exclama o André!Outra fatia e nada de anel! Nem de pedido! Mais uma conversa e um intervalo de três segundos de silêncio - é o António que conta. Mais uma gragalhada.
Todos na mesa. Tempo de saborear um café. Tempo de saborear outra gargalhada. O Sérgio levanta-se e ajoelha-se em frente à minha maninha. Tira um anel do bolso, dentro de uma caixinha e tudo, e pede a Andreia em casamento! Apagam-se as luzes! Toca-se com a colherzinha no copo (que é sempre bonito) e a noiva fica de todas as cores. Sorri enquanto o noivo espera pela resposta. Brincadeirinha... Diriam os brasileiros... Mas deu que pensar. A noiva cansou-se de esperar pelas palmas e deu o beijo da praxe. Antes fosse... Mas os lábios carnudos só se tocaram numa mão, bem pequenita! Pena! Eu até gostava do meu cunhado. A pré-boda é interrompida pelo alarme. O inimigo do papá António lembrou-se de avisar a mãe Vanda. Ah, pois é! E outro telemóvel dá sinal. É o Sancho, que não pôde ir ao jantar... Mas recebeu a notícia do noivado pelo telefone. Confusão total! Pelos vistos não ficou animado com a bôda!
A Quinta de Cabriz começa a evaporar-se. Mais gargalhadas, mais parvoeira que assim é que é bom. As conversas começam a descer, quase a pique, como o vinho da garrafa. Pergunta-se o preço do viagra; fala-se no canal que ninguém tem nem vê; E o André ainda se lembra de que o pau de cabinda é para beber... Ainda bem que a hora vai mudar. Se pudessemos parar o tempo...
Toca novamente o telemóvel. Ninguém atende. Era o Pita. É o Pita! Conversas paralelas impede-nos de ouvir a conversa dele e a nossa conversa. Ninguém se entende. Toca a campainha e faz-se Luz, numa entrada triunfal. É das loiras que eles gostam mais. Renova-se o ar e o ambiente. Preparamo-nos para sair, que a noite ainda é uma criança e há mais uma hora! Uns querem ir para o vale ganhar a hora. Fala-se no Nessão. Há quem vá dormir com ele. Não acuso ninguém! Deixamos os noivos, os habitués e os mais ou menos do costume, rumo à pista. Deixamos a mesa e os sofás e o CD na aparelhagem. Encontramo-nos lá. Mais uma hora para aproveitar!
Afinal, este era aquele jantar! O tal!

But everybody thinks that everybody knows
About everybody else but nobody knows
Anything about themselves
Because they're all worried about everybody else

(Jack Johnson)

01 novembro, 2005

NOSTALGIA...

Hoje deu-me para a nostalgia. Todos temos os nossos momentos e hoje foi o meu. De repente dei-me conta de que a minha vida mudou. Deu uma grande volta. Acho que ainda não tinha parado para pensar nisso. Os anos passaram e eu não tinha dado por isso. Olhei para o meu quarto. Para as fotografias e elas mostraram-me como mudei. Eu e todas as pessoas que fazem parte do meu quarto, do meus placares, das minhas paredes. De mim. Já não parecemos os mesmos. Mas será que continuamos a ser quem éramos? Não sei. Há pessoas que continuam a seguir os meus passos, que continuam a partilhar o meu quarto, mas que já não fazem parte da minha vida. É estranho. Não sei porque é que as fotografias delas permanecem nos placares… Talvez porque sou uma pessoa que gosta de preservar o passado, nem que seja para o guardar dentro de uma pequena caixa… E observá-lo de longe… É verdade. Sempre tive dificuldade em desfazer-me das coisas. Das minhas coisas. Como se precisasse delas para seguir em frente. Continuo a ser assim. A minha vida é que mudou.

SEGUNDO, Maria Rita

Finalmente a cantora brasileira lança o seu novo albúm. "Segundo" acaba por ser um prolongamento da fantástica música a que a artista já nos habituou. Desta vez, numa perspectiva mais positiva da vida. Destaco os temas: Caminho das Águas, Ciranda do Mundo e Feliz.
Para quem não conhece, aqui fica um pouco do percurso de Maria Rita:
Tem um timbre perfeito, uma técnica irrepreensível e uma postura em palco que nos fazem recordar a diva brasileira. Maria Rita, filha de Elis Regina, descobriu a música cedo. Mas só aos 26 anos resolveu mostrar ao mundo a sua verdadeira vocação. Em 1999, deixou para trás o curso de Jornalismo, que estava a tirar nos Estados Unidos. Numa noite acordou assustada com a sensação de que tudo aquilo que estava a fazer não tinha sentido. A filha da Pimentinha resolveu, então, regressar ao seu país para cumprir o seu destino: ser cantora. Maria Rita Mariano demorou algum tempo a preparar o seu trabalho e sobretudo a preparar-se para enfrentar o público. Afinal, a tarefa não era fácil. A comparação entre Maria Rita e Elis Regina seria inevitável. Mas os brasileiros renderam-se logo aos encantos da artista. O CD lançado no final do ano passado, com o título Maria Rita, já é disco de platina. Há quem veja em Maria Rita a grandeza de Elis Regina. A diva brasileira deixou à filha entre muitas outras coisas, o modo dramático de cerrar os olhos nos tons agudos. Mas Maria Rita não se atreve a cantar temas interpretados pla mãe porque os considera obras-primas. Prefere ouvi-los para conhecer um percurso de vida que a deixou aos cinco anos de idade. Mais de 20 anos depois da morte de Elis, o Brasil lança uma voz que volta a preencher um espaço de culto na música. Mas Maria Rita é muito mais que filha de Elis Regina. É uma verdadeira força da natureza!

30 outubro, 2005

ZSA ZSA ZSU!!!

As palavras mágicas de
Carrie Bradshaw. Estamos sempre a aprender...

Quando descobri que o guião do "Sexo e a Cidade" é escrito por homens fiquei muito surpreendida. Afinal há homens que percebem as mulheres! Eles de facto existem!!!




SOMETIMES

"How many times must we go
trough this YOU'll always be mine, Cupid only misses sometimes..."

(CUPID, Jack Johnson)

17 outubro, 2005

Antes eles que nós


A peça Antes eles que Nós vai estrear dia 21 de Outubro no São Luiz e vai estar em cena até ao dia 10 de Dezembro (Sextas e Sábados às 23h30). Maria Rueff, Manuel Marques e Bruno Nogueira voltam a subir ao palco. Que saudades!

16 outubro, 2005

Sábado à noite. Jantar de 4 amigas, que já não se vêem há algum tempo. Lisboa. 21h15. Estacionamos o carro junto à Kapital. É impressionante ver aquele local, que costuma estar povoado de carros e de pessoas, deserto. Mal fecho a porta do carro da Joaninha deparo-me com uma cara suspeita, capaz de assustar a sua própria sombra. Não dizia palavra. Mas olhava-nos como se o nosso dever fosse dar-lhe uma moedinha. Mesmo que ele nem sequer um braço tenha levantado para nos ajudar na manobra. E se há coisas que me irritam são as obrigações. Por isso, dirigi-me à Vanessa e apertei-a num abraço, para dimunuir as saudades. A Joaninha ficou para trás e lá se viu obrigada a dar a moedinha ao fantasma. Só para ver se poupa mais um risco ao carro. Mais à frente estava a Carla. Mais beijinhos e mais abraços. Momento de decisão. Onde é que vamos jantar? A Joaninha lá se lembrou do Tachadas, que tem uma cozinha fantástica! Mas logo de seguida também se lembrou de que o cozinheiro grelha a carne e o peixe a um metro das mesas e como íamos sair depois do jantar... Não convinha irmos a cheirar a grelhados... Mas se eu soubesse o que sei hoje nem que fosse para o Garage a trasandar a entrecosto ou a sardinhas assadas.
Mas lá nos lembrámos do Cento e Doce, que era bem bom. E começámos a caminhar. Sobe rua, sobe rua, sobe rua. Cento e Onze e ... Nada do Cento e Doce. Terá fechado? Pelos vistos. E o nosso estômago continuava a reclamar. Caminhámos mais um pouco e descobrimos outro restaurante. O estranho é que nem me lembro bem do nome. Ou era Almerindo ou Almerino. Uma coisa desse género! Pareceu-nos uma tasquinha simpática e lá decidimos entrar. Tive a nocção de que éramos as Doce nos anos 80, tal eram os flashes! Mas tudo bem: uma loira, uma ruiva, outra morena, e uma de cabelo cor de castanha. Nada mal. Não fosse o restaurante estar cheio de homens de cabeça colada à televisão, a ver a bola. Vem o senhor, que até nem era mal encarado. Traz o pãozinho quentinho, as manteigas e uns pastéis. Começámos a atacar. Tal era a fome. Estudada a ementa chegou a altura de fazer os pedidos. Para a Joaninha, leitão; Para mim, espetadas de novilho com ananás; para a Vanessa, um bitoque com muitas batatas fritas; e, para a Carla, um bife com cogumelos. Chega o jarro de sangria. Mal dou um gole sinto o meu estômago a borbulhar. Aquele vinho... Nem para tempero! Mas com o açúcar até dá para enganar o fígado.
Chegam as travessas. Meu Deus! O leitão da Joaninha... Parecia uns pedaços de chispe mal cozido. As minhas espetadas até estavam boas... Não fosse o ananás estar azedo (latinha aberta há 15 dias...) O bitoque da Vanessa pedia por socorro a um nadador salvador. Os bifinhos da Carla... Estavam mais pálidos do que o mimo. E as nossas batatinhas fritas... Eram caseiras, sim senhor. E bem fersquinhas. Foi pena terem sido mergulhadas no óleo que vive há três meses na fritadeira... O que me valeu foi a bela da fatia de ananás natural que o senhor depois me trouxe. De facto, há males que vêm por bem!
Pedimos o mais depressa possível a conta e fomos embora. E prometemos nunca mais voltar. Para nosso bem e do nosso estômago. Lá descemos a rua e deparámo-nos com um espectáculo fenomenal. Em vez de vermos um cãozinho alçar a perna junto a um pneu deparamo-nos com um homenzinho em plena rua (via de circulação automóvel) a alçar a sua perninha...
Rumamos ao Cup & Cino. A bola invadiu o espaço e as mesas estão replectas de pessoas e de hinos futobolísticos. E agora, a sobremesa e o café? Precisamos de adoçar a boca. Andamos mais uns kms para apressar a digestão. Entramos no Túnel, ou seja, no Dragão. Mesas gigantescas equipadas a rigor. Encarnado e branco. Lá descobrimos uma mesinha, bem lá ao fundo e escolhemos a sobremesa. Muita caloria para compensar o jantar. Chega a Sónia, de sorriso nos lábios, como sempre. E chegam as belas fatias de bolo de chocolate. Hummm.... Mesmo bom! Até... O jogo ter terminado e o resultado ter sido 2-0 para o Benfica. Pois, o Sr. do restaurante, como bom lampião que é, foi buscar o lindo cd do Benfica e duarnte uma hora e tal fomos brindadas com aquela música. Não podia ter sido pior. Safaram-nos as conversas paralelas e cruzadas. Muitas. Os amigos. As amigas. O trabalho. As saudades. Toca o telefone. É a Pat a dizer que vai ter ao Garage com a Ana, porque o desfile está atrasado. Tenho saudades delas. Já não as vejo há mais de três meses.
Lá pagámos ao simpático ucraniano os bolos, os cafés, e os martinis e fizemos nós o troco. Porque ele já estava meio baralhado. Saímos e fomos buscar os carros para irmos até ao Garage. Com tanto azar lá tivemos a sorte de encontrar um lugarzinho à porta. Entramos. Vazio. subimos para o andar de cima. Chegam a Pat e a Ana com as pilhas carregadas. Como sempre. E chegam mais uns amigos. Ficamos na conversa, lá em cima, enquanto a pista se mantém vazia e envergonhada. Mais uma horinha e descemos. Com muita pilha. Vamos para a direita, corrente de ar. Vamos para a esquerda, Sibéria. Resolvemos ficar no epicentro da confusão, que é muito mais giro. Dançámos, dançámos, dançámos. A Joaninha ainda teve direito ao momento da noite: primeiro, leva com uma cerveja nas costas, depois, eu entorno-lhe o copo da vodka (sem querer) e num momento crucial... Era para ficares mais docinha! ; )
Enfim... Há noites que valem mesmo pela COMPANHIA! E esta foi mesmo uma delas!

14 outubro, 2005

GOSTEI

Hoje ao folhear o livro do Daniel Oliveira "1 Dose de droga 1 grama de Esperança" deparei-me com uma frase que me chamou a atenção. Vem no prefácio e é do jornalista Carlos Daniel.
"As coisas mais importantes da vida não são apenas
as que ficam no coração. São também as que vêm do coração."
Gostei!Porque é verdade.

28 setembro, 2005


Penso muitas vezes que se não existissem certas músicas o mundo seria muito mais escuro, mais vazio. Esta é uma delas. Cantada pelo Camané, claro!



Mais um fado no fado

Letra: Júlio de Sousa Música: Carlos da Maia

Eu sei que esperas por mim
Como sempre, como dantes
Nos braços da
madrugada...
Eu sei que em nós não há fim,
Somos eternos amantes,
Que não amaram mais nada.
Eu sei que me querem bem,
Eu sei que há
outros amores
Para bordar no meu peito.
Mas eu não vejo ninguém,
Porque não quero mais dores
Nem mais baton no meu leito.
Nem beijos
que não são teus,
Nem perfumes duvidosos,
Nem carícias perturbantes,
E nem infernos nem céus,
Nem sol nos dias chuvosos,
Porque inda
somos amantes.
Mas Deus quer mais sofrimento,
Quer mais rugas no meu
rosto
E o meu corpo mais quebrado...
Mais requintado tormento,
Mais
velhice, mais desgosto,
E mais um fado no fado.

25 setembro, 2005

FILIPE LA FÉRIA: Quando um homem sonha...

Ontem vi uma entrevista ao La Féria na televisão. E lembrei-me do dia em que o entrevistei, há dois anos atrás. Foi uma experiência muito interessante. Lembro-me de que senti algum receio. Pois toda a gente me dizia: vais entrevistar aquele mau feitio? Mas lembro-me também de que esse senhor foi simplesmente fantástico comigo, de uma simpatia extrema. Nunca irei esquecer esse dia. Tenho a certeza.
Ás vezes tenho tantas saudades de escrever reportagens e perfis... Pode ser que um dia volte ao jornalismo...


Era uma vez um menino que brincava no quintal da avó aos teatros, na Aldeia Nova de S. Bento. Escrevia peças, montava cenários com as velhas caixas de sapatos, era encenador e representava. A história podia começar assim, como num conto. Afinal, foi esse poder de criação que o levou para o mundo do teatro. Escritor, encenador, cenógrafo, dramaturgo, actor e empresário, Filipe La Féria construiu um percurso de vida que hoje, aos 58 anos, o torna um mito do teatro português.


A cortina de veludo bourdeaux do Politeama eleva-se ao céu, acompanhando o ritmo da música. O espectáculo Minha Linda Senhora termina. Agora, os actores esperam, uns sentados comodamente no palco, outros encostados aos cenários, pelas indicações do encenador e do seu assistente. Filipe La Féria bate as últimas palmas e dirige-se para o palco: “Tens de olhar mais para ela. Observa-a!”, aconselha ao actor Nuno Guerreiro, que desempenha o papel de Professor Higgins. Depois, exemplifica ele próprio e pede aos actores para repetirem a cena enquanto, de braços cruzados e de olhos atentos, estuda os pormenores dos movimentos e da postura de Nuno Guerreiro. Meia hora bastou para corrigir os erros, no ensaio geral, de onde Filipe La Féria saiu satisfeito. Minha Linda Senhora, em cena desde Dezembro do ano passado, conta já com mais de 100 mil espectadores.
“O meu sonho era ser encenador, era fazer espectáculos. Mais do que ser actor”, revela La Féria com um intenso olhar, no seu escritório, no primeiro andar do Politeama, virado para a Rua das Portas de S. Antão. Um gabinete arejado, luminoso, com uma mesa de reuniões e uma secretária, em cima da qual tem emoldurado um grande retrato, a preto e branco, de Amália.
Desde criança que a imaginação lhe permitia entrar noutros mundos. Fazia peças na sua terra natal, no Alentejo, nas quais desempenhava todas as funções possíveis, desde escritor a cenógrafo. A mudança para Lisboa aproximava-o do mundo do espectáculo mas, nos anos 60, havia um grande preconceito em relação aos artistas e, por isso, teve de enfrentar a sua família, que “ nada tinha a ver com o teatro”. Hoje essa situação é inversa, na perspectiva de Filipe La Féria. Agora, “os pais empurram os filhos para a televisão para irem fazer figuras tristes”. No entanto, foi pela mão do actor Raúl de Carvalho, amigo do pai, que se estreou no Teatro Nacional D. Maria II. Tinha apenas 16 anos quando pisou o palco pela primeira vez na Companhia de Amélia Rey Colaço. A partir daí a sua vida foi sempre para o palco.
“Trabalhei muito”, orgulha-se o homem de cabelo branco, sorridente, de voz rouca e arrastada, que se vai acomodando no cadeirão de pele, em frente à secretária. Mesmo quando ganhou uma Bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para ir estudar teatro para Londres. Trabalhou como empregado de mesa num restaurante de luxo em plena Kings Road, porque a bolsa não chegava para sobreviver. Foi lá que Carlos Avillez o foi buscar. Para que La Féria fosse substituir Mário Viegas, que tinha sido preso. A peça estreava dentro de dois dias em Paris e era necessário “um actor em que ele tivesse confiança e que, num espaço de um dia ou de dois, fizesse o papel”. Depois disso regressou a Londres mas os convites para trabalhar em Portugal iam chegando e as saudades da família e dos amigos fizeram com que Filipe La Féria voltasse para Lisboa. Mas hoje não faria o mesmo e fala nos tempos em que passou em Inglaterra com grande nostalgia: “Arrependo-me de não ter ficado lá. Porque, embora eu não domine bem o inglês, eles acharam que podia fazer uma carreira como encenador. Eles, os professores ingleses, que sempre acreditaram no sucesso de La Féria.
Voltou para Portugal e passou por várias companhias de Teatro: Teatro Estúdio de Lisboa, Teatro Experimental de Cascais, Casa da Comédia e Teatro da Cornucópia. Em 1993, foi a vez de remodelar o Teatro Politeama, a sua segunda casa.
Mas teria ficado em Londres porque Inglaterra é um país bastante organizado, onde é fácil viver. “É um país que gosta tanto de teatro como nós gostamos de futebol, não é?”, solta uma gargalhada sarcástica. Filipe La Féria é um homem bem humorado, espontâneo, amável, que revela nos gestos e no olhar uma constante inquietação.
“Os ingleses gostam muito de si mesmos, da sua história e só o povo que goste muito da sua história é que gosta de teatro”. Pois, para La Féria, “o teatro é a representação da história”.
Teria ficado em Inglaterra porque está triste com o sistema em que o seu país está afundado. Disso já toda a gente sabe. O encenador foi sempre muito frontal nas suas intervenções públicas acerca da política cultural adoptada pelos governos PS e PSD. “Não sou nada politicamente correcto. Mas um artista nunca pode ser politicamente correcto, senão não é artista”, confessa Filipe La Féria que, enquanto gesticula com as mãos, esboça um sorriso. “Sou tão crítico do mundo porque quero melhorá-lo, quero transformá-lo... o artista é o homem que transforma as coisas!”. À medida que vai soltando as palavras, junta as mãos e encosta-as ao queixo, como se implorasse para que o deixassem mudar o mundo.
Filipe La Féria considera-se, antes, “criticamente correcto”, uma vez que julga ter a obrigação de mostrar às pessoas o estado em que o teatro e o próprio país estão. “Vivemos agora numa grande crise de cultura, de identidade. O Teatro Nacional está preeminentemente fechado, não há um Teatro Nacional de Ópera...”, diz o encenador, revoltado. Atribui as responsabilidades ao Estado que, segundo La Féria, “não nasceu nem para artista nem para empresário”. Aliás, as polémicas acerca da política de atribuição dos subsídios estão intimamente ligadas a este homem das artes. Desde a peça Rosa Tatuada (1999) que não lhe são atribuídos subsídios porque tem bastante sucesso, argumento que o deixa pasmado: “O ter muito público em Portugal é pejorativo. Isso é completamente absurdo”, comenta, abanando a cabeça. Defende ainda que o Estado deveria ajudar na parte estrutural dos teatros, nos investimentos das próprias salas bem como na sua protecção (para que não fossem destruídas). Essa ajuda seria fundamental, agora, que comprou o Olympia. “Gasta-se tudo e fica-se a dever mais”, argumenta, levantando o sobrolho ao mesmo tempo que solta um suspiro.
Projectos tem muitos. Desde criar uma Escola de Teatro e de Dança a levar Shakespeare a palco. Televisão já experimentou várias vezes, mas a Sétima Arte é ainda um sonho: “Gostava muito de fazer cinema, como actor ou como realizador”.
Enquanto fala, Filipe La Féria vai rabiscando uma folha branca. Desenha uma espécie de escadas. Talvez aquelas que o levaram ao êxito. “ Do que eu gosto é de começar numa folha assim, completamente branca, e depois saber que dali vai nascer um espectáculo”, revela, entusiasmado. É à vida, às memórias e à análise do quotidiano que Filipe La Féria vai buscar inspiração para os seus espectáculos. É assim que nas folhas vão nascendo corpos, vozes, ritmos, cheiros... preparados para subirem aos palcos!

23 setembro, 2005

"Marcas de Sangue", a não perder!


Já há muito tempo que uma peça de teatro não me prendia tanto à cadeira. "Marcas de Sangue" é a prova de que em Portugal se sabe fazer teatro. E muito bem.
A produção da Escola de Mulheres leva a palco do Teatro da Comuna um texto Judy Upton (encenado por Isabel Medina) que explora temas muito fortes como a solidão e a violência.
É numa residencial, perdida à beira da praia, que cinco personagens vão fazer as suas escolhas (quando podem) num clima tenso e violento. A solidão é o pano de fundo da peça e a angústia passa garantidamente para o público. A complexidade das relações entre as personagens que procuram desesperadamente um caminho para a felicidade, vai-se adensando ao longo da peça. A busca pelo amor e as ilusões e desilusões que ela implica marcam a encruzilhada da vida de cada uma destas personagens.
É de realçar a magnífica interpretação de Albano Jerónimo, Leonor Seixas, José Wallenstein, São José Correia e de Lucinda Loureiro.
A não perder!
Lembro-me de ti. SECRETAMENTE


Passo por ti
Tu nem me vês
Só mais um dia... Amanhã talvez
E fico à
espera
De ver em ti
O sentimento... Que trago dentro de mim
Mas
eu
so posso imaginar
O que podia ser
Se eu te pudesse abraçar
Se
eu te
pudesse ter
Secretamente à espera de um gesto, de um sinal
Secretamente
tentando saber se dás por mim, afinal
Secretamente à
procura de um toque, de
um olhar
Secretamente tentando saber..
Se
algum dia os nossos mundos se
irão cruzar
Qual o caminho
Que irá
dar, a esse teu mundo
Onde eu
queria entrar.
E tantas vezes, eu já
sorri
Só por lembrar-me
Só por
pensar em ti
E eu só posso
imaginar
O que podia ser
Se eu te pudesse
abraçar
Se eu te
pudesse ter..
Secretamente à espera de um gesto, de um
sinal
Secretamente tentando saber se dás por mim afinal
Secretamente à
procura de um toque, de um olhar
Secretamente tentando saber
Se
algum
dia os nossos mundos se irão cruzar...

(Rita Guerra)

Life goes easy on me all most the time

Há dias em que de repente me dou conta como sou feliz. E só me apetece dizer isso bem alto a toda a gente. A estrelinha tem andado comigo... Ás vezes nem sei bem o que é que faço para ter tanta sorte...
Sabe bem ser feliz e darmo-nos conta disso.

19 setembro, 2005

Paper Bag

Tenho andado a ouvir muito esta música.

(Fiona Apple)

I was staring at the sky, just looking for a star
To pray on, or wish on, or
something like that
I was having a sweet fix of a daydream of a boy
Whose reality I knew, was a hopeless to be had
But then the dove of hope
began its downward slope
And I believed for a moment that my chances
Were approaching to be grabbed
But as it came down near, so did a weary
tear-
I thought it was a bird, but it was just a paper bag-
Hunger
hurts, and I want him so bad, oh it kills
Cuz I know I'm a mess he don't
wanna clean upI got to fold cuz these hands are too shaky to hold
-Hunger
hurts, but starving works,
When it costs too much to loveAnd I went crazy
again today,
Looking for a strand to climbLooking for a little hopeBaby said
he couldn't stay, wouldn't put his lips to mine,
And a fail to kiss is a
fail to copeI said, "Honey, I don't feel so good, don't feel justified
Come
on put a little love here in my void," - he said"It's all in your head," and I
said, "So's everything" -But he didn't get it - I thought he was a manBut he was
just a little boy-
Hunger hurts, and I want him so bad, oh it killsCuz I
know I'm a mess he don't wanna clean upI got to fold cuz these hands are too
shaky to hold-
Hunger hurts, but starving works,
When it costs too much
to love-Hunger hurts, and I want him so bad, oh it killsCuz I know I'm a mess he
don't wanna clean upI got to fold cuz these hands are too shaky to hold-
Hunger hurts, but starving works,When it costs too much to love

18 setembro, 2005

REENCONTRO


Cheguei à falésia. Olhei em meu redor. Não vi ninguém. Não ouvi ninguém. Só as ondas do mar e o vento que, lá ao fundo, levantava a areia. Sentei-me no banco corrido de madeira. E pensei: quantas pessoas já terão estado aqui sentadas? Quantas paixões foram aqui desvendadas? Quantos relacionamentos foram aqui terminados? Quanta saudade foi aqui sentida? E solidão... Porque é que o mar ateia as paixões e acalma o sofrimento? Parece que o leva na maré e que se vai perdendo na ondas, devagarinho.
Olhei para a praia e respirei fundo. Bem fundo. Como eu gosto de estar ali... Mesmo que não seja para atear a paixão nem para atirar o sofrimento às ondas... Refugio-me ali quando tenho de tomar decisões. E gosto de estar ali porque me sinto bem. Porque uma imensa calma me invade o corpo e a mente. Sim. Não é apenas uma sensação psicológica. É também física. Muito física. Tirei o livro da mala e reli a contra-capa: "Quando alguém se cruza no nosso caminho traz sempre uma mensagem para nós. Encontros fortuitos são coisa que não existe. Mas o modo como respondemos a esses encontros determina se estamos à altura de receber a mensagem". Olhei novamente para o mar e pensei: porque é que estou aqui sozinha?
Fui ali para me reencontrar. Às vezes também precisamos disso.
"Às vezes temos de fechar os olhos para conseguir ver"
Não me vou esquecer disso, Raquel.
FIOS DE OVOS
A brisa do fim de tarde começava a soprar suavemente enquanto eu metia mais uma garfada à boca de fios-de-ovos com canela, lá na esplanada da praia. Lembrei-me de ti e dos deliciosos fios-de-ovos que me trazias nas frias e pálidas manhãs de Dezembro, quando vinhas passar férias comigo. Era uma espécie de ritual que só a nós pertencia. Era um momento só nosso. Entravas devagarinho para não me acordares e levavas nas mãos uma pequena caixinha de cartão apertada com um cordel amarelo. Guardava-la como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. E com certeza que o era e sempre o será. Atiravas o pesado sobretudo para cima da cadeira e subias as escadas, em silêncio, com a caixinha na mão. Davas-me um beijo na testa e dizias que aquele era o dia mais feliz da tua vida porque me tinhas a mim nos braços e um outro tesouro nas mãos. E eu acreditava. Acreditava que o mês de Dezembro era a época mais feliz da tua vida. Todos os dias eram mágicos.
Descíamos as escadas e sentávamo-nos perto da lareira a saborear aquela iguaria tão doce que dava um sentido especial aos momentos em que estávamos juntos. Ficávamos a manhã inteira na sala, aquecidos pelo ambiente que nos rodeava. O tempo ia passando e nós tínhamos parado precisamente naquela hora, naquele minuto e naquele segundo. Por vezes adormecíamos no tapete macio, enrolados na manta de xadrez que a minha mãe me tinha oferecido no aniversário, a ouvir baixinho músicas do Caetano Veloso, “o único homem que sabe o que é música”, dizias carinhosamente.
Acordávamos com um sorriso nos lábios e ficávamos a olhar um para o outro. Ao nosso lado, permanecia a caixinha. Agora vazia, amachucada, esquecida. Desprovida de qualquer significado.
Meto outra garfada à boca e certifico-me de que realmente os fios-de-ovos deixaram de ter sabor. Estão amargos e sem brilho, perdidos nesta pequena taça que os tenta embalar. Estão tão vazios de significado como a caixinha no final de todas as manhãs de Dezembro.
Acredito, agora, que só consigo sentir aquela doçura quando estou perto de ti. Na tua ausência, os fios-de-ovos são apenas uma sobremesa como outra qualquer que não me aguça o paladar.